27 de jun. de 2013

III Prêmio Literário "Cidade Poesia"

  • Gênero: poesia
Sede da ASES
  • Prazo de inscrição: 31 de julho de 2013, via e-mail
  • Cidade: Bragança Paulista - SP
  • Realização: ASES - Associação de Escritores de Bragança Paulista + Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Bragança Paulista (SP)
  • Objetivo: "revelar e divulgar novos valores literários e, ao mesmo tempo, sedimentar a perífrase Cidade Poesia do município de Bragança Paulista"
  • Pré-requisitos: apresentar o trabalho em Língua Portuguesa, NÃO ser sócio (efetivo ou correspondente) da ASES NEM funcionário da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Bragança Paulista (SP)
  • Trabalho: 1 (um) poema absolutamente inédito, que não tenha sido divulgado por qualquer meio, seja em livro, coletânea ou na internet, e que tampouco tenha sido premiado noutros concursos (literários ou não)
  • Tema: livre
  • Formatação: máx. 40 versos
  • Identificação: no campo "Assunto" deverá constar "III Prêmio Literário Cidade Poesia"
  • Remessa:
    • dois arquivos (Word) anexos, via e-mail para: asescidadepoesia@gmail.com
    • arquivo "Anexo I" - poema (constando título e pseudônimo), sem nenhuma identificação do autor
    • arquivo "Anexo II" - dados pessoais do participante:
      a) título da poesia;
      b) pseudônimo;
      c) nome do autor;
      d) RG e CPF;
      e) endereço completo (com CEP!), telefone e e-mail; e
      f) breve currículo
    • escritores nascidos ou residentes em Bragança Paulista (SP) devem informar no corpo do e-mail: ESCRITOR BRAGANTINO

  • Endereçamento: asescidadepoesia@gmail.com
  • Prêmios:
    • Serão selecionados 40 (quarenta!) poemas para publicação em Antologia, sendo que os prêmios correspondentes serão os seguintes:

      → 1º lugar: R$ 2.000,00 (dois mil reais) + troféu "Cidade Poesia" + Certificado de premiação + 10 exemplares da Antologia;
      → 2º lugar: R$ 1.000,00 (mil reais) + Certificado de premiação + 5 exemplares da Antologia;
      → 3º lugar: R$ 500,00 (quinhentos reais) + Certificado de premiação + 5 exemplares da Antologia;
      → do 4º ao 10º lugar: Menções Honrosas + 3 exemplares da Antologia;
      → do 11º ao 40º lugar: 3 exemplares da Antologia.

    • um autor nascido ou residente em Bragança Paulista será também premiado em categoria especial:
      → R$ 500,00 (quinhentos reais) + troféu + 10 exemplares da Antologia.

  • Comissão julgadora: a ASES indicará uma comissão de reconhecida capacidade intelectual e idoneidade para julgamento dos trabalhos, cuja decisão será irrevogável, não cabendo nenhum tipo de recurso; casos comprovados de plágio e de não-ineditismo serão inteira responsabilidade do concorrente, que, além de ser desclassificado, sofrerá as sanções legais cabíveis.
  • Resultado: os classificados serão notificados por e-mail sobre o resultado do concurso, o qual também estará disponível no site da ASES (www.asesbp.com.br), a partir do dia 10 de outubro de 2013.
  • Premiação: os prêmios serão atribuídos em sessão solene em data e horário que serão divulgados posteriormente pelo site da ASES (www.asesbp.com.br) e e-mails aos classificados.
  • Informações complementares: site da ASES (www.asesbp.com.br), e-mail asesbp@gmail.com

Biblioteca da ASES


  • Comentários da Produção Literária:

    → Quem nunca esteve em Bragança Paulista para compreender seu merecido título de
    Cidade Poesia tem aqui sua primeira boa razão para concorrer a este prêmio. Não é Roma, mas essa cidade espalha-se igualmente sobre e entre sete colinas. Estância climática, ela abriga singulares belezas, tanto naturais quanto urbanísticas. Para os entusiastas inveterados da boa gastronomia, como eu, uma atração ainda mais especial: a famosa linguiça bragantina, que, como marco local, concorre lado a lado com o título supracitado. Inscreva seu poema e concorra ao prêmio, porque, se for um dos quarenta selecionados, você terá mais um bom motivo para conhecer o Lago do Taboão!


    → A turma da
    ASES ‒ Associação de Escritores de Bragança Paulista conta 21 (vinte e um!) anos de trabalhos em prol da Literatura, realizando saraus, lançamentos e premiações, entre outros eventos, e sendo um círculo bastante ativo de leitores/escritores, que também disponibiliza uma rica biblioteca em sua sede. Se por lá ainda não sedimentou-se a perífrase Cidade Poesia, dependendo da ASES essa sedimentação não vai demorar muito.

    → "Com o objetivo de revelar e divulgar novos
    valores literários ()": pare só um pouquinho e pense no que isso quer dizer. Uma coisa é revelar e divulgar talentos ‒ o que qualquer programa dominical fajuto consegue fazer. Quando um prêmio propõe-se a revelar e divulgar valores, é porque o negócio está ficando sério!

    → Agora chega de rasgação de seda, porque nossa posição em relação ao sempre querido e bem 
    vindo "tema livre" permanece a mesma. Reafirmamos nosso argumento de sempre: muito cuidado com o "tema livre". A falta de Liberdade é uma condição tão desafiadora que às vezes nos obriga a sermos muito mais criativos, literariamente falando, no sentido de nos conduzir à descoberta de uma (ou mais) alternativas a ela. O "tema livre" é aquilo que chamamos de canto da sereia ‒ encantador, mas potencialmente fatal; uma condição capaz de nos deixar tão sem parâmetros, e nas piores hipóteses tão sem referências, que é preciso prestar bastante atenção para não nos perdermos pelo caminho (e com "perder-se pelo caminho" entenda-se "prejudicar nosso próprio texto"). Lembrem-se das Limitações criativas (aula 08 da Oficina Criativa): "as restrições impostas, ao contrário do que se pensa, não inibem a criatividade, mas sim a estimulam"; outra coisa: quando fala-se em "tema", lembrem-se também do conceito de Ideia Controladora (aula 10 da Produção Literária).

    → A inscrição por
    e-mail não é apenas uma solução sustentável para o excesso de papel (os eucaliptos agradecem), mas também uma maneira de desburocratizar um pouquinho o processo de inscrição, tornando ele mais prático. Não se engane: o risco de fazer uma inscrição errada e ser desclassificado é o mesmo, por isso preste bastante atenção no que você vai escrever nos arquivos anexos. Salve-os no formato Word, ainda que você use, ou prefira, outro editor de texto ‒ pode ser que a Comissão Julgadora não consiga abrir o documento e você não quer ser desclassificado por um deslize desses. Se você não for bragantino de nascença nem resida na cidade, não escreva nada no corpo de texto. Isso vale também para os bragantinos de coração.

    → Um poema de 40 versos é um poema
    longo não se empolgue, porque menos é mais, e Concisão é tudo (mencionei que lá eles gostam bastante de haicais?).

    → Quanto aos prêmios: dinheiro, troféus, certificados, publicações em antologia e menções honrosas são coisas que, pelo lado material, conferem
    seriedade a esse concurso. Você não vai querer perder nada disso, tampouco a belíssima sessão solene que eles organizam para a entrega dos prêmios.
  •  Parecer: vale MUITO a pena concorrer.

Leia abaixo o regulamento na íntegra:


ASSOCIAÇÃO DE ESCRITORES DE BRAGANÇA PAULISTA - ASES
III PRÊMIO LITERÁRIO CIDADE POESIA


Com o objetivo de revelar e divulgar novos valores literários e, ao mesmo tempo, sedimentar a perífrase Cidade Poesia do município de Bragança Paulista,  aASSOCIAÇÃO DE ESCRITORES DE BRAGANÇA PAULISTA- ASES -  em parceria com a Prefeitura Municipal de Bragança Paulista, por intermédio da  SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA E TURISMO DE BRAGANÇA PAULISTA -  promove o III PRÊMIO LITERÁRIO CIDADE POESIA, o qual no presente ano prestigiará a modalidade POESIA.

REGULAMENTO

DA PARTICIPAÇÃO:

1. Poderão participar escritores brasileiros ou não, desde que os trabalhos sejam apresentados em Língua Portuguesa;
2. O tema será livre;
3. Cada participante deverá apresentar uma única poesia absolutamente inédita, assim considerada a poesia não divulgada por quaisquer meios, seja em livro único do participante ou em coletânea de vários autores, pela internet ou premiada em outro concurso literário;
4. Estão impedidos de participar os sócios da ASES (efetivos e correspondentes) e os funcionários da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Bragança Paulista;

DAS INSCRIÇÕES:

5. A inscrição deverá ser feita exclusivamente pelo endereço eletrônico asescidadepoesia@gmail.com  No campo assunto, deverá constar III Prêmio Literário Cidade Poesia;
6. A inscrição deverá ser encaminhada em dois arquivos (anexos):
6.1 - ANEXO I: contendo a poesia, com no máximo 40 (quarenta) versos (linhas) digitados em Word, com título e pseudônimo, sem identificação do autor;
6.2 - ANEXO  II – contendo os dados pessoais do participante, a saber:
a) título da poesia;
b) pseudônimo;
c) nome do autor;
d) número do RG e do CPF;
e) endereço completo (rua, cidade, estado, país, CEP (imprescindível), telefone e e-mail para contatos;
f) breve currículo do participante.
7. Os escritores nascidos ou residentes em Bragança Paulista deverão constar no corpo do e-mail a expressão: ESCRITOR BRAGANTINO, no caso de desejarem concorrer nessa categoria;
8. Prazo final para a  inscrição: 31de julho de 2013.

DAS PREMIAÇÕES:

9. A ASES indicará uma comissão de reconhecida capacidade intelectual e idoneidade para julgamento dos trabalhos, cuja decisão será irrevogável, não cabendo nenhum tipo de recurso;
10. Serão selecionadas quarenta poesias.
11. Os três primeiros colocados serão premiados da seguinte forma:
1° lugar: R$ 2.000,00 (dois mil reais), troféu Cidade Poesia, certificado e 10 (dez) exemplares da antologia;
2° lugar: R$ 1.000,00 (mil reais), certificado e 5 (cinco) exemplares da antologia;
3° lugar: R$ 500,00 (quinhentos reais), certificado e 5 (cinco)  exemplares da antologia;
12. Aos classificados do 4° ao 10° colocados serão atribuídas Menções Honrosas, além de 3 (três) exemplares da antologia.
13. Os demais classificados receberão 3 (três) exemplares da antologia.
14. Os participantes de Bragança Paulista concorrerão em faixa especial, desde que especifiquem no corpo do e-mail essa condição, com a seguinte premiação:Melhor poesia de autor bragantino: R$ 500,00 (quinhentos reais), troféu e 10 (dez) exemplares da antologia;
15. Os prêmios serão atribuídos em sessão solene em data e horário que serão divulgados posteriormente pelo site da ASES (www.asesbp.com.br) e e-mails aos classificados;

DEMAIS INFORMAÇÕES:

16. Casos de plágio comprovados, bem como a comprovação do não-ineditismo da poesia,  são de inteira responsabilidade do concorrente, sendo este automaticamente excluído da seleção com as sanções legais cabíveis;
17. Os concorrentes classificados serão notificados por e-mail sobre o resultado do concurso, o qual também estará disponível no site da Associação de Escritores de Bragança Paulista www.asesbp.com.br, a partir do dia 10 de outubro de 2013;
18. O simples envio da poesia implica na aceitação total deste regulamento;
19. Informações complementares poderão ser obtidas no site: www.asesbp.com.br ou  pelo e-mail asesbp@gmail.com ou, ainda, com Cida Moreira (11) 4032-7163,  appmoreira@yahoo.com.br  Henriette (11) 4033-3609, henriette2007@terra.com.br e Lyrss (11) 4032-0266,  lyrss@uol.com.br
20. Os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria Executiva da ASES.
Bragança Paulista, 17 de maio de 2013


APPARECIDA MOREIRA PEREIRA
Presidente da Associação de Escritores de Bragança Paulista



22 de jun. de 2013

"Darandina", por Alessandra Zanasi

Inconformada estava, profundamente, com Guimarães Rosa. Que diacho de Darandina! Já havia lido e relido, e nada. Mal, mal entendera o enredo. Aí o ego foi colocado na parede e uma pergunta não me saía da cabeça:
 Sou uma boa leitora, o quê me falta para compreender o Rosa?
Inconformações
Fui lê-lo no que talvez fosse o desejo desse escritor que me encabula: em sua oralidade. Encarei mais de cinco páginas  versão xerox  em voz alta. Em muitos momentos me senti uma criança aprendendo a ler.
Rosa em minha imaginação quis desarranjar meus pensamentos. E eu comecei a compreendê-lo em voz alta.
Darandina me fez rir. Adorei!
E hoje descobri minha própria América com meu jeitinho de entrar no mundo rosiano.
Estou orgulhosa de minzinha.
Alessandra Zanasi


*                              *                              *


Darandina
João Guimarães Rosa

                De manhã, todos os gatos nítidos nas pelagens, e eu em serviço formal, mas, contra o devido, cá fora do portão, à espera do menino com os jornais, e eis que, saindo, passa, por mim e duas ou outras três pessoas que perto e ali mais ou menos ocasionais se achavam, aquele senhor, exato, rápido, podendo-se dizer que provisoriamente impoluto. E, pronto, refez-se no mundo o mito, dito que desataram a dar-se, para nós, urbanos, os portentosos fatos, enchendo explodidamente o dia: de chinfrim, afã e lufa-lufa.
                — "Ô, seô!…" — foi o grito; senão se, de guerra: — "Ugh, sioux!…" — também cabendo ser, por meu testemunho, já que com concentrada ou distraída mente me encontrava, a repassar os próprios, íntimos quiproquós, que a matéria da vida são. Mas: — "Oooh…" — e o senhor tão bem passante algum quieto transeunte apunhalara?! Isso em relance e instante visvi — vislumbrou-se-me. Não. Que só o que tinha sido — vice-vi mais —: pouco certeiro e indiscreto no golpe, um afanador de carteiras. Desde o qual, porém, irremediável, ia-se o vagar interior da gente, roto, de imediato, para durante contínuos episódios.
                — "Sujeito de trato, tão trajado…" — estranhava, surgindo do carro, dentr'onde até então cochilara, o chofer do dr. Bilôlo. — "A caneta-tinteiro foi que ele abafou, do outro, da lapela…" — depunha o menino dos jornais, só no vivo da ocasião aparecendo. Perseguido, entretanto, o homem corria que luzia, no diante do pé, varava pela praça, dava que dava. — "Pega!" Ora, quase no meio da praça, instalava-se uma das palmeiras-reais, talvez a maior, mesmo majestosa. Ora, ora, o homem, vestido correto como estava, nela não esbarrou, mas, sem nem se livrar dos sapatos, atirou-se-lhe abraçado, e grimpava-a, voraz, expedito arriba, ao incrível, ascensionalíssimo. — Uma palmeira é uma palmeira ou uma palmeira ou uma palmeira? — inquiriria um filósofo. Nosso homem, ignaro, escalara dela já o fim, e fino. Susteve-se.
                — Esta! — me mexi, repiscados os olhos, em tento por me readquirir. Pois o nosso homem se fora, a prumo, a pino, com donaires de pica-pau e nenhum deslize, e ao topo se encarapitava, safado, sabiá, no páramo empíreo. Paravam os de seus perséquito, não menos que eu surpresos, detidos, aqui em nível térreo, ante a infinita palmeira — muralhavaz. O céu só safira: No chão, já nem se contando o crescer do ajuntamento, dado que, de toda a circunferência, acudiam pessoas e povo, que na praça se emagotava. Tanto nunca pensei que uma multidão se gerasse, de graça, assim e instantânea.
                Nosso homem, diga-se que ostentoso, em sua altura inopinada, floria e frutificava: nosso não era o nosso homem. — "Tem arte…" — e quem o julgava já não sendo o jornaleiro, mas o capelão da Casa, quase que com regozijo. Os outros, acolá, de infra a supra, empinavam insultos, clamando do demo e aqui-da-polícia, até se perguntava por arma de fogo. Além, porém, muito a seu grado, ele imitativamente aleluiasse, garrida a voz, tonifluente; porque mirável era que tanto se fizesse ouvir, tudo apesar-de. Discursava sobre canetas-tinteiro? Um carnelô, portanto, atrevido na propaganda das ditas e estilógrafos. Em local de má escolha, contudo, pensei; se é que, por descaridosa, não me escandalizasse ainda a ideia de vir alguém produzir acrobacias e dislativas peloticas, dessas, justo em frente de nosso Instituto. Extremamente de arrojo era o sucesso, em todo o caso, e eu humano; andei ver o reclamista.
                Chamavam-me, porém, nesse entremenos, e apenas o Adalgiso, sisudo ele, o de sempre, só que me pegando pelo braço. Puxado e puxando, corre que apressei-me, mesmo assim, pela praça, para o foco do sumo, central transtornamento. Com estarmos ambos de avental, davam-nos alguma irregular passagem. — "Como foi que fugiu?" — todo o mundo perguntando, do populacho, que nunca é muito tolo por muito tempo. Tive então enfim de entender, ai-me, mísero. — "Como o recapturar?" Pois éramos, o Adalgiso e eu, os internos de plantão, no dia infausto' fantástico.
                Vindo o que o Adalgiso, com de-curtas, não urgira em cochichar-me: nosso homem não era nosso hóspede. Instantes antes, espontâneo, só, dera ali o ar de sua desgraça. — "Aspecto e facies nada anormais, mesmo a forma e conteúdo da elocução a princípio denotando fundo mental razoável…" Grave, grave, o caso. Premia-nos a multidão, e estava-se na área de baixa pressão do ciclone. — "Disse que era são, mas que, vendo a humanidade já enlouquecida, e em véspera de mais tresloucar-se, inventara a decisão de se internar, voluntário: assim, quando a coisa se varresse de infernal a pior, estaria já garantido ali, com lugar, tratamento e defesa, que, à maioria,cá fora, viriam a fazer falta…" — e o Adalgiso, a seguir, nem se culpava de venial descuido, quando no ir querer preencher-lhe a ficha.
                — "Você se espanta?" — esquivei-me. De fato, o homem exagerara somente uma teoria antiga: a do professor Dartanhã, que, mesmo a nós, seus alunos, declarava-nos em quarenta-por-cento casos típicos, larvados; e, ainda, dos restantes, outra boa parte, apenas de mais puxado diagnóstico… Mas o Adalgiso, mas ao meu estarrecido ouvido: — "Sabe quem é? Deu nome e cargo. Sandoval o reconheceu. É o Secretário das Finanças Públicas…" — assim baixinho, e choco, o Adalgiso.
                Ao que, quase de propósito, a turba calou-se e enervou-nos, à estupefatura. Desolávamo-nos de mais acima olhar, aonde evidentemente o céu era um desprezo de alto, o azul antepassado. De qualquer modo, porém, o homem, aquém, em torre de marfim, entre as verdes, hirtas palmas, e ao cabo de sua diligência de veloz como um foguete, realizava-se, comensurado com o absurdo. Sei-me atreito a vertigens. E quem não, então, sob e perante aquilo, para nós um deu-nos-sacuda, de arrepiar perucas, semelhante e rigorosa coisa? Mas um super-humano ato pessoal, transe hiperbólico, incidente hercúleo. — "Sandoval vai chamar o dr. Diretor, a Polícia, o Palácio de Governo…" — assegurou o Adalgiso.
                Uma palmeira não é uma mangueira, em sua frondosura, sequer uma aroeira, quanto a condições de fixibilidade e conforto, acontece-que. Que modo e como, então, aguentava de reter-se tanto ali, estadista ou não, são ou doente? Ele lá não estava desequilibrado; ao contrário. O repimpado, no apogeu, e rematado velhaco, além de dar em doido, sem fazer por quando. A única coisa que fazia era sombra. Pois, no justo momento, gritou, introduziu-se a delirar, ele mais em si, satisfatível: — "Eu nunca me entendi por gente!…" — de nós desdenhava. Pausou e repetiu. Daí e mais: — "Vocês me sabem é de mentira!" Respondendo-me? Riu, ri, riu-se, rimo-nos. O povo ria.
                Adalgiso, não: — "Ia adivinhar? Não entendo de política" — inconcluía. — "Excitação maníaca, estado demencial… Mania aguda, delirante… E o contraste não é tudo, para se acertarem os sintomas?" — ele, contra si consigo, opunha. Psiu, porém, quem, assado e assim, a mundos e resmungos, sua total presença anunciava? Vê-se que o dr. Diretor: que, chegando, sobrechegado. Para arredar caminho, por império, os da Polícia — tiras, beleguins, guardas, delegado, comissário — para prevenir desordem. Também, cândidos, com o dr. Diretor, os enfermeiros, padioleiros, Sandoval, o Capelão, o dr. Eneias e o dr. Bilôlo. Traziam a camisa-de-força. Fitava-se o nosso homem empalmeirado. E o dr. Diretor, dono: — "Há de ser nada!"
                Contestando-o, diametral, o professor Dartanhã, de contrária banda aportado: — "Psicose paranóide hebefrênica, dementia praecox, se vejo claro!" —; e não só especulativo- teorético, mas por picuinha, tanto o outro e ele se ojerizavam; além de que rivais, coincidentemente, se bem que calvo e não calvo. Toante que o dr. Diretor ripostou, incientífico, em atitude de autoridade: — "Sabe quem aquele cavalheiro é?" — e o título declinou, voz vedada; ouvindo-o, do povo, mesmo assim, alguns, os adjacentes sagazes. Emendou o mote o professor Dartanhã: — "…mas transitória perturbação, a qual, a capacidade civil, em nada lhe deixará afetada…" — versando o de intoxicação-ou- infecção, a ponto falara. Mesmo um sábio se engana quanto ao em que crê —; cremos, nós outros, que nossos límpidos óculos limpávamos. Assim cada qual um asno prepalatino, ou, melhor, apud o vulgo: pessoa bestificada. E, pois que há razões e rasões, os padioleiros não depunham no chão a padiola.
                Porque, o nosso, o excelso homem, regritou: — "Viver é impossível!…" — um slogan; e, sempre que ele se prometia para falar, conseguia-se, cá, o multitudinal silêncio — das pessoas de milhares. Nem esquecera-lhe o elemento mímico: fez gesto — de que empunhasse um guarda-chuva. Ameaçava o quê a quem, com seu estro catastrófico? — "Viver é impossível!" — o dito declarado assim, tão empírico e anermenêutico, só através do egoísmo da lógica. Mas, menos como um galhofeiro estapafúrdio, ou alucinado burlão, pendo a ouvir, antes em leal tom e generoso. E era um revelar em favor de todos, instruía-nos de verdadeira verdade. A nós — substantes seres sub-aéreos — de cujo meio ele a si mesmo se raptara. Fato, fato, a vida se dizia, em si, impossível. Já assim me pareceu. Então, ingente, universalmente, era preciso, sem cessar, um milagre; que é o que sempre há, a fundo, de fato. De mim, não pude negar-lhe, incerta, a simpatia intelectual, a ele, abstrato — vitorioso ao anular-se — chegado ao píncaro de um axioma.
                Sete peritos, oficiais pares de olhos, do espaço inferior o estudavam. — "Que ver: que fazer?" — agora. Pois o dr. Diretor comandava-nos em conselho, aqui, onde, prestimosa para nós, dilatava a Polícia, a proêmíos de casse-têtes e blasfemos rogos, uma clareira precária. Para embaraços nossos, entretanto, portava-se árduo o ilustre homem, que ora encarnava a alma de tudo: inacessível. E — portanto — imedicável. Havia e haja que reduzi-lo a baixar, valha que por condigno meio desguindá-lo. Apenas, não estando à mão de colher, nem sendo de se atrair com afagos e morangos. — "Fazer o quê?" — unânimes, ora tardávamos em atinar. Com o que o dr. Diretor, como quem saca e desfecha, prometeu: — "Vêm aí os bombeiros!" Ponto. Depunham os padioleiros no chão a padiola.
                O que vinha, era a vaia. Que não em nós, bem felizmente, mas no nosso guardião do erário. Ele estava na ponta. Conforme quanto, rápida, no chacoalhar da massa, difundira-se a identificação do herói. Donde, de início, de bufos avulsos gritos, daqui, aqui, um que outro, comicamente, a atoarda pronta borbotava. E bradou aos céus, formidável, una, a versão voxpopular: — "Demagogo! Demagogo!…" — avessa ressonância. — "Demagôoogo!…" — a belo e bom, safa, santos meus, que corrimaça. O ultravociferado halali, a extrair-se de imensidão: apinhada, em pé, impiedosa — aferventada ao calor do dia de março. Tenho que mesmo uns de nós, e eu, no conjunto conclamávamos. Sandoval, certo, sim; ele, na vida, pela primeira vez, ainda que em esboço, a revoltar-se. Reprovando-nos o professor Dartanhã: — "Não tem um político direito às suas moléstias mentais?" — magistralmente enfadado. Tão certo que até o dr. Diretor em seus créditos e respeitos vacilasse — psiquiatrista. Vendo-se, via-se que o nosso pobre homem perdia a partida, agora, desde que não conseguindo juntar o prestígio ao fastígio. Demagogo…
                Conseguiu-o — de truz, tredo. Em suave e súbito, deu-se que deu que se mexera, a marombar, e por causas. Daí, deixando cair… um sapato! Perfeito, um pé de sapato — não mais — e tão condescendentemente. Mas o que era o teatral golpe, menos amedrontador que de efeito burlesco vasto. Claro que no vivo popular houve refluxos e fluxos, quando a mera peça demitiu-se de lá, vindo ao chão, e gravitacional se exibiu no ar. Aquele homem: — "É um gênio!" — positivou o dr. Bilôlo. Porque o povo o sentia e aplaudia, danado de redobrado: — "Viva! Viva!…" — vibraram, reviraram. — "Um gênio!" — notando-se, elegiam-no, ofertavam-lhe oceânicas palmas. Por São Simeão! E sem dúvida o era, personagente, em sua sicofância, conforme confere e confirmava: com extraordinária acuidade de percepção e alto senso de oportunidade. Porque houve também o outro pé, que não menos se desabou, após pausa. Só que, para variar, este, reto, presto, se riscou — não parabolava. Eram uns sapatos amarelados. O nosso homem, em festival — autor, alcandorado, alvo: desta e elétrica aclamação, adequada.
                Estragou-a a sirene dos bombeiros: que eis que vencendo a custo o acesso e despontando, com esses tintinábulos sons e estardalho. E ancoravam, isto é — rubro de lagosta ou arrebol — cujo carro. Para eles se ampliava lugar, estricto espaço de manobra; com sua forte nota belígera, colheram sobeja sobra dos aplausos. Aí já seu Comandante se entendendo com a Polícia e pois conosco, ora. Tinham seu segundo, comprido caminhão, que se fazia base da escada: andante apetrecho, para o empreendimento, desdobrável altaneiramente, essencial, muito máquina. Ia-se já agir. Manejando-se marciais tempos e movimentos, à corneta e apito dados. Começou-se. Ante tanto, que diria o nosso paciente — exposto cínico insígne?
                Disse. — "O feio está ficando coisa…" — entendendo de nossos planos, vivaldamente constatava; e nisso indocilizava-se, com mímica defensiva, arguto além de alienado. A solução parecendo inconvir-lhe. — "Nada de cavalo-de-pau!" — vendo-se que de fresco humor e troiano, suspeitoso de Palas Ateneia. E: — "Querem comer-me ainda verde?!" — o que, por mero mimético e sintomático, apenas, não destoava nem jubilava. À arte que, mesmo escada à parte, os bons bombeiros, muito homens seriam para de assalto tomar a palmeira-real e superá-la: o uso avulso de um deles, tão bem em técnicas, sabe-se lá, quanto um antllhano ou canaca. A poder de cordas, ganchos, espeques, pedais postiços e poiais fincáveis. Houve nem mais, das grandes expectações, a conversa entrecortada. O silêncio timbrava-se.
                Isto é, o homem, o prócer, protestou. — "Pára!…" Gesticulou que ia protestar mais. — "Só morto me arriam, me apeiam!" — e não à-toa, augural, tinha ele o verbo bem adestrado. Hesitou-se, de cá para cá, hesitávamos. — "Se vierem, me vou, eu… Eu me vomito daqui!…" — pronunciou. Declamara em demorado, quase quite eufórico, enquanto que nas viçosas palmas se retouçando, desvárias vezes a menear-se, oscilante por um fio. À coaxa acrescentou: — "Cão que ladra, não é mudo…" — e já que só faltava mesmo o triz, para passar-se do aviso à lástima. Parecia prender-se apenas pelos joelhos, a qualquer simples e insuportável finura: sua palma, sua alma. Ah… e quase, quasinho… quasezinho, quase… Era de horrir-me o pêlo. Nanja. — "É de circo…" — alguém sus sussurrou-me, o dr. Eneias ou Sandoval. O homem tudo podia, a gente sem certeza disso. Seja se com simulagens e fictâncias? Seja se capaz de elidir-se, largar-se e se levar do diabo. No finório, descabelado propósito, perpendurou-se um pouco mais, resoluto rematado. A morte tocando, paralela conosco — seu tênue tambor taquigráfico. Deu-nos a tensão pânica: gelou-se-me. Já aí, ferozes, em favor do homem: — "Não! Não!" — a gritamulta — "Não! Não! Não!" — tumultroada. A praça reclamava, clamava. Tinha-se de protelar. Ou produzir um suicídio reflexivo — e o desmoronamento do problema? O dr. Diretor citava Empedocles. Foi o em que os chefes terrestres concordaram: apertava a urgência de não se fazer nada. Das operações de salvamento, interrompeu-se o primeiro ensaio.  O homem parara de balançar-se — irrealmente na ponta da situação. Ele dependia dele, ele, dele, ele, sujeito. Ou de outro qualquer evento, o qual, imediatamente, e muito aliás, seguiu-se.
                De um — dois. Despontando, com o Chefe-de-Polícia, o Chefe-de-Gabinete do Secretário. Passou-se-lhe um binóculo e ele enfiava olho, palmeira-real avante-acima, detendo-se, no titular. Para com respeito humano renegá-lo: — "Não o estou bem reconhecendo…" Entre, porém, o que com mais decoro lhe conviesse, optava pela solicitude, pálido. Tomava o ar um ar de antecâmara, tudo ali aumentava de grave. A família já fora avisada? Não, e melhor, nada: familia vexa e vencilha. Querendo-se conquanto as verticais providências, o que ficava por nossa má-arte. Tinha-se de parlamentar com o demente, em não havendo outro meio nem termo. Falar para fazer momento; era o caso. E, em menos desniveladas relações, como entrosar-se, físico, o diálogo?
                Se era preciso um palanque? — disse-se. Com que, então sem mais, já aparecia — o cônico cartucho ou cumbuca — um alto-falante dos bombeiros. O dr. Diretor ia razoar a causa: penetrar em o labirinto de um espírito, e — a marretadas do intelecto — baqueá-lo, com doutoridade. Toques, crebros, curtos, de sirene, o incerto silêncio geraram. O dr. Diretor, mestre do urso e da dança empunhava o preto cornetão, embocava-o. Visava-o para o alto, circense, e nele trombeteiro soprava. — "Excelência!…" — começou, sutil, persuasivo; mal. — "Excelência…" — e tenha-se, mesmo, que com tresincondigna mesura. Sua calva foi que se luziu, de metalóide ou metal; o dr. Diretor gordo e baixo. Infundado, o povo o apupou: — "Vergonha, velho!" — e — "larga, larga!…" Deste modo, só estorva, a leiga opinião, quaisquer clérigas ardilidades.
                Todo abdicativo, o dr. Diretor, perdido o comando do tom, cuspiu e se enxaguava de suor, soltado da boca o instrumento. Mas não passou o megafone ao professor Dartanhã, o que claro. Nem a Sandoval, prestante, nem ao Adalgiso, a cujos lábios. Nem ao dr. Bilôlo, que o querendo, nem ao dr. Eneias, sem voz usual. A quem, então pois? A mim, mi, me, se vos parece; mas só enfim. Temi quando obedeci, e muito siso havia mister. Já o dr. Diretor me ditava:
                — "Amigo, vamos fazer-lhe um favor, queremos cordialmente ajudá-lo…" — produzi, pelo conduto; e houve eco. — "Favor? De baixo para cima?…" — veio a resposta, assaz sonora. Estava ele em fase de aguda agulha. Havia que o questionar. E, a novo mando do dr. Diretor, chamei-o, minha boca, com intimativa: — "Psiu! Ei! Escute! Olhe!…" — altiloquei. — "Vou falir
de bens?" — ele altitonava. Deixava que eu prosseguisse; a sua devendo de ser uma compreensão entediada. Se lhe de deveres e afetos falei! — "O amor é uma estupefação…" — respondeu- me. (Aplausos.) Para tanto tinha poder: de fazer, vezes, um oah-oa-oah! — mão na boca — cavernoso. Intimou ainda: — "Tenha-se paciência!…" E: — "Hem? Quem? Hem?" — fez, pessoalmente, o dr. Diretor, que o aparelho, sôfrego, me arrebatara. — "Você, eu, e os neutros…" — retrucou o homem; naquele elevado incongruir, sua imaginação não se entorpecia. De nada, esse ineficaz paralaparacaparlar, razões de quiquiriqui, a boa nossa verbosia; a não ser a atiçar-lhe mais a mioleira, para uma verve endiabrada. Desistiu-se, vem que bem ou mal, do que era querer-se amimar a murros um porco-espinho. Do qual, de tão de cima, ainda se ouviu, a final, pérfida pergunta: — "Foram às últimas hipóteses?"
                Não. Restava o que se inesperava, dando-se como sucesso de ipso-facto. Chegava… O quê? O que crer? O próprio! O vero e são, existente, secretário das Finanças Públicas — ipso. Posto que bem de terra surgia, e desembarafustadamente. Opresso. Opaco. Abraçava-nos, a cada um de nós se dava, e aliás o adulávamos, reconhecentemente, como ao Pródigo o pai ou o cão a Ulisses. Quis falar, voz inarmônica; apontou causas; temia um sósia? Subiam-no ao carro dos bombeiros, e, aprumado, primeiro perfez um giro sobre si, em tablado, completo, adequando-se à expositura. O público lhe devia. — "Concidadãos!" — ponta dos pés. — "Eu estou aqui, vós me vêdes. Eu não sou aquele! Suspeito exploração, calúnia, embuste, de inimigos e adversários…" De rouco, à força, calou-se, não se sabe se mais com bens ou que males. O outro, já agora ex-pseudo, destituído, escutou-o com ociosidade. De seu conquistado poleiro, não parava de dizer que "sim", acenado.
                Era meio-dia em mármore. Em que curiosamente não se tinha fome nem sede, de demais coisas qual que me lembrava. Súbita voz: — "Vi a Quimera!" — bradou o homem, importuno, impolido; irara-se. E quem e que era? Por ora, agora, ninguém, nulo, joão, nada, sacripante, quídam. Desconsiderando a moral elementar, como a conceito relativo: o que provou, por sinais muito claros. Desadorava. Todavia, ao jeito jocoso, fazia-se de castelo-no-ar. Ou era pelo épico epidérmico? Mostrou — o que havia entre a pele e a camisa.
                Pois, de repente, sem espera, enquanto o outro perorava, ele se despia. Deu-se à luz, o fato sendo, pingo por pingo. Sobre nós, sucessivos, esvoaçantes — paletó, cueca, calças — tudo a bandeiras despregadas. Retombando-lhe a camisa, por fim, panda, aérea, aeriforme, alva. E feito o forró! — foi — balbúrdias. Na multidão havia mulheres, velhas, moças, gritos, mouxe-trouxe, e trouxe-mouxe, desmaios. Era, no levantar os olhos, e o desrespeitável público assistia — a ele in puris naturalibus. De quase alvura enxuta de aipim, na verde coma e fronde da palmeira, um lídimo desenroupado. Sabia que estava a transparecer, apalpava seus membros corporais. — "O síndrome…" — o Adalgiso observou; de novo nos confusionávamos. — "Síndrome exofrênico de Bleuler…" — pausado, exarou o Adalgiso. Simplificava-se o homem em escândalo e emblema, e franciscano magnifício, à força de sumo contraste. Mas se repousava, já de humor benigno, em condições de primitividade.
                Com o que — e tanta folia — em meio ao acrisolado calor, suavam e zangavam-se as autoridades. Não se podendo com o desordeiro, tão subversor e anônimo? Que havia que iterar, decidiram, confabulados: arcar com os cornos do caso. Tudo se pôs em movimento, troada a ordem outra vez, breve e bélica, à fanfarra — para o cometimento dos bombeiros. Nosso rancho e adro, agora de uma largura, rodeado de cordas e polícias; já ali se mexendo os jornalistas, repórteres e fotógrafos, um punhado; e filmavam.
                O homem, porém, atento, além de persistir em seus altos intentos, guisava-se também em trabalho muito ativo. Contara, decerto, com isso, de maquinar-se-lhe outra esparrela. Tomou cautela. Contra-atacava. Atirou-se acima, mal e mais arriba, desde que tendo início o salvatério: contra a vontade, não o salvavam! Até; se até. A erguer-se das palmas movediças, até o sumo vértice; ia já atingir o espique, ver e ver que com grande risco de precipitar-se. O exato era ter de falhar — com uma evidência de cachoeira. — "É hora!" — foi nossa interjeição golpeada; que, agora, o que se sentia é que era o contrário do sono. Irrespirava-se. Naquela porção de silêncios, avançavam os bombeiros, bravos? Solerte, o homem, ao último ponto, sacudiu-se, se balançava, eis: misantropóide gracioso, em artificioso equilíbrio, mas em seu eixo extraordinário. Disparatou mais: — "Minha natureza não pode dar saltos?…" — e, à pompa, ele primava.
                Tanto é certo que também divertia-nos. Como se ainda carecendo de patentear otimismo, mostrava-nos insuspeitado estilo. Dandinava. Recomplicou-se, piorou, a pausa. Sua queda e morte, incertas, sobre nós pairando, altanadas. Mas, nem caindo e morrendo, dele ninguém nada entenderia. Estacavam, os bombeiros. Os bombeiros recuavam. E a alta escada desandou, desarquitetou-se, encaixava-se. Derrotadas as autoridades, de novo, diligentes, a repartir-se entre cuidados. Descobri, o que nos faltava. Ali, uma forte banda-de-música, briosa, à dobrada. Do alto daquela palmeira, um ser, só, nos contemplava.
                Dizendo sorrindo o capelão: — "Endemoninhado…"
                Endemoninhados, sim, os estudantes, legião, que do sul da praça arrancavam? — de onde se haviam concentrado. Dado que roda-viveu um rebuliço, de estrépito, de assaltada. Em torrente, agora, empurravam passagem. Ideavam ser o homem um dos seus, errado ou certo, pelo que juravam resgatá-lo. Era um custo, a duro, contê-los, à estudantada. Traziam invisa bandeira, além de fervor hereditário. Embestavam. Entrariam em ato os cavalarianos, esquadrões rompentes, para a luta com o nobre e jovem povo. Carregavam? Pois, depois. Maior a atrapalhação. Tudo tentava evoluir, em tempo mais vertiginoso e revelado. Virou a ser que se pediam reforços, com vistas a pôr-se a praça esvaziada; o que vinha a ponto. Porém, também entoavam-se inacionais hinos, contagiando a multaturba. E paz?
                De ás e roque e rei, atendeu a isso, trepado no carro dos bombeiros, o Secretário da Segurança e Justiça. Canoro, grosso, não gracejou: — "Rapazes! Sei que gostam de me ouvir. Prometo, tudo…" — e verdade. Do que, aplaudiram-no, em sarabando, de seus antecedentes se fiavam. Deu-se logo uma remissão, e alguma calma. Na confusão, pelo sim pelo não, escapou-se, aí, o das-Finanças-Públicas Secretário. Em fato, meio quebrado de emoções, ia-se para a vida privada.
                Outra coisa nenhuma aconteceu. O homem, entre o que, entreaparecendo, se ajeitara, em berço, em seus palmares. Dormindo ou afrouxando de se segurar, se ele desse de torpefazer-se, e enfim, à espatifação, malhar abaixo? De como podendo manter-se rijo incontável tempo assim, aos circunstantes o professor Dartanhã explicava. Abusava de nossa paciência — um catatônico-hebefrênico — em estereotipia de atitude. — "A frechadas logo o depunham, entre os parecis e nhambiquaras…" — inteirou o dr. Bilôlo; contente de que a civilização prospere a solidariedade humana. Porque, sinceros, sensatos, por essa altura, também o dr. Diretor e o professor Dartanhã congraçavam-se.
                Sugeriu-se nova expediência, da velha necessidade. Se, por treslouco, não condescendesse, a apelo de algum argumento próximo e discreto? Ele não ia ressabiar; conforme concordou, consultado. E a ação armou-se e alou-se: a escada exploradora — que nem que canguru, um, ou louva-a-deus enorme vermelho — se desdobrou, em engenhingonça, até a mais de meio caminho no vácuo. Subia-a o dr. Diretor, impertérrito ousadamente, ele que naturalizava-se heróico. Após, subia eu descendo, feito Dante atrás de Virgílio. Ajudavam-nos os bombeiros. Ao outro, lá, no galarim, dirigíamo-nos, sem a própria orientação no espaço. A de nós ainda muitos metros, atendia-nos, e ao nosso latim perdido. Por que, brusco, então, bradou por: — "Socorro!…" —?
                Tão então outro tresbulício — e o mundo inferior estalava. Em fúria, arruaça e frenesis, ali a população, que a insanar-se e insanir-se, comandando-a seus mil motivos, numa alucinação de manicomiáveis. Depreque-se! — não fossem derrubar caminhão e escada. E tudo por causa do sobredito-cujo: como se tivesse ele instilado veneno nos reservatórios da cidade.
                Reaparecendo o humano e estranho. O homem. Vejo que ele se vê, tive de notá-lo. E algo de terrível de repente se passava. Ele queria falar, mas a voz esmorecida; e embrulhou-se-lhe a fala. Estava em equilíbrio de razão: isto é, lúcido, nu, pendurado. Pior que lúcido, relucidado; com a cabeça comportada. Acordava! Seu acesso, pois, tivera termo, e, da ideia delirante, via-se dessonambulizado. Desintuído, desinfluído — se não se quando — soprado. Em doente consciência, apenas, detumescera-se, recuando ao real e autônomo, a seu mau pedaço de espaço e tempo, ao sem-fim do comedido. Aquele pobre homem descoroçoava. E tinha medo e tinha horror — de tão novamente humano. Teria o susto reminiscente — do que, recém, até ali, pudera fazer, com perigo e preço, em descompasso, sua inteligência em calmaria. Sendo agora para desempenhar-se, de um momento para nenhum outro. Tremi, eu, comiserável. Vertia-se, caía? Tiritávamos. E era o impasse da mágica. É que ele estava em si; e pensava. Penava — de vexame e acrofobia. Lá, ínfima, louca, em mar, a multidão: infernal, ululava.
                Daí, como sair-se, do lance, desmanchado o firme burgo? Entendi-o. Não tinha rosto com que aparecer, nem roupas — bufão, truão, tranca — para enfrentar as razões finais. Ele hesitava, electrochocado. Preferiria, então, não salvar-se? Ao drama no catafalco, emborcava-se a taça da altura. Um homem é, antes de tudo, irreversível. Todo pontilhado na esfera de dúvida, propunha-se em outra e imensurável distância, de milhões e trilhões de palmeiras. Desprojetava-se, coitado, e tentava agarrar-se, inapto, à Razão Absoluta? Adivinhava isso o desvairar da multidão espaventosa — enlouquecida. Contra ele, que, de algum modo, de alguma maravilhosa continuação, de repente nos frustrava. Portanto, em baixo, alto bramiam. Feros, ferozes. Ele estava são. Vesânicos, queriam linchá-lo.
                Aquele homem apiedava diferentemente — de fora da província humana. A precisão de viver vencia-o. Agora, de gambá num atordoamento, requeria nossa ajuda. Em fácil pressa atuavam os bombeiros, atirando-se a reaparecê-lo e retrazê-lo — prestidigitavam-no. Rebaixavam-no, com tábuas, cordas e peças, e, com seus outros meios apocatastáticos. Mas estava salvo. Já, pois. Isto e assim. Iria o povo destruí-lo?
                Ainda não concluindo. Antes, ainda na escada, no descendimento, ele mirou, melhor, a multidão, deogenésica, diogenista. Vindo o quê, de qual cabeça, o caso que já não se esperava. Deu-nos outra cor. Pois, tornavam a endoidá-lo? Apenas proclamou: — "Viva a luta! Viva a Liberdade!" — nu, adão, nado, psiquiartista. Frenéticos, o ovacionaram, às dezenas de milhares se abalavam. Acenou, e chegou embaixo, incólume. Apanhou então a alma de entre os pés, botou-se outro. Aprumou o corpo, desnudo, definitivo.
                Fez-se o monumental desfecho. Pegaram-no, a ombros, em esplêndido, levaram-no carregado. Sorria, e, decerto, alguma coisa ou nenhuma proferia. Ninguém poderia deter ninguém, naquela desordem do povo pelo povo. Tudo se desmanchou em andamento, espraiando-se para trivialidades. Vivera-se o dia. Só restava imudada, irreal, a palmeira.
                Concluindo. Dando-se que, em pós, desafogueados, trocavam-se pelos paletós os aventais. Modulavam drásticas futuras providências, com o professor Dartanhã, ex-professo, o dr. Diretor e o dr. Eneias — alienistas. — "Vejo que ainda não vi bem o que vi…" referia Sandoval, cheio de cepticismo histórico. — "A vida é constante, progressivo desconhecimento…" — definiu o dr. Bilôlo, sério, entendo que, pela primeira vez. Pondo o chapéu, elegantemente, já que de nada se sentia seguro. A vida era à hora.
                Apenas nada disse o Adalgiso, que, sem aparente algum motivo, agora e sempre súbito assustava-nos. Ajuizado, correto, circunspecto demais: e terrível, ele, não em si, insatisfatório. Visto que, no sonho geral, permanecera insolúvel. Dava-me um frio animal, retrospectado. Disse nada. Ou talvez disse, na pauta, e eis tudo. E foi para a cidade, comer camarões.



Este texto foi extraído da internet, 
revisado minuciosamente conforme a 15ª edição do livro Primeiras estórias (Nova Fronteira, 2003) e desavergonhadamente de acordo com o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, 
tendo sido sumariamente suprimidos da versão original principalmente os tremas e a acentuação gráfica das ideias.

Leia no volume máximo.

12 de jun. de 2013

13ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto


A Produção Literária visitou no último sábado, 8 de junho, pela terceira vez, a feira nacional do livro de Ribeirão Preto, que neste ano conta sua 13ª edição. Entre espetáculos musicais, apresentações teatrais, oficinas de grafite e um "vale cultura" para os alunos da rede pública de ensino, o evento, em pleno andamento, ainda oferece debates, conferências e oficinas literárias, sendo estas justamente o que buscamos neste ano. Talvez não pela diversidade em seu cardápio, uma vez que a feira ribeirãopretana apresenta-se já na terceira página de sua programação oficial como um evento multicultural, não necessariamente voltado apenas para o universo do livro e da leitura, mas estranhamos o fato de nossos colegas não terem manifestado muito interesse em visitar uma feira tão próxima  material e, porque não?, culturalmente. Fomos apenas quatro, todos do Grupo da Rua Três, nenhum da turma de 2013, para trazermos impressões e experiências. Talvez o que seja realmente frustrante é ver a enorme quantidade de investidores de grosso calibre, elencados na contracapa da brochura supracitada, que estão por detrás do evento e então sair de lá com a sensação de que alguma coisa muito importante ficou faltando. Alguma coisa que justifique o mote "livros nos fazem livres", por sinal maravilhoso. Talvez porque a feira tenha contado este ano com uma praça a menos, o que significa dezenas de estandes a menos. O que significa feira a menos. Livros infantis e revistas demais. Melhor dizendo, livros "de colorir" e revistas "de receitas econômicas" demais. Talvez seja a falta que sentimos de uma Literatura realmente expressiva e não tanto didática (como aliás apregoa nosso caro Menalton Braff, cujo nome não constava desta vez entre os do pessoal da "Fundação Feira do Livro"). Talvez o contrastar daquela lista enorme de patrocinadores e apoiadores com os resultados observados seja justamente o que nos dá aquela sensação, quase sartreana, de escassez. Mas vamos logo ao que interessa, porque este texto já está cheio de talvezes.


Chegamos cedo para a inscrição nas oficinas Roteiro para Cinema, ministrada por Fernando Bonassi, e Personagem e Espaço Ficção, ministrada por Carol Bensimon. Não cabe aqui divagar sobre certas dificuldades em encontrar estacionamento para o carro ou mesmo de realizar as inscrições propriamente ditas, mas vale dizer que o Centro Cultural Palace é um belo de um espaço, por sinal muito bem aproveitado. Em meus dias de morador de Ribeirão Preto, lá ainda no nostálgico final do século XX, recordo-me dum prédio antigo, trancado e aparentemente arruinado. Vê-lo outra vez de portas abertas foi uma sensação bastante bacana. Aliás, ele já estava novamente em funcionamento há algum tempo e foi pura omissão de minha parte, desde as edições anteriores da feira, não tê-lo adentrado. Enquanto aguardávamos o início das atividades, visitamos a mostra, coordenada pela Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto, do fotógrafo Márcio Monteiro, que trouxe retratos de sua viagem à Alemanha, país homenageado pelo evento.

Como funciona a ficção,de James Wood
(Cosac Naify, 2011)
Nosso companheiro Victor Costa assistiu à oficina de Fernando Bonassi, tendo deixado suas impressões aqui no blog. Yvone Z. da Silva, Pâmela Lino e eu participamos da oficina de Carol Bensimon, sedentos por novas visões sobre construção, caracterização e composição de personagens. De tabela, ainda conseguimos uma noção, até mesmo prática, do que se pode extrair de um ambiente ficcional (fictício ou não) em prol de um personagem. Honesta como sua prosa, Carol logo de início admitiu que aquela manhã marcaria seu début como ministradora de oficinas, coisa que de modo algum pareceu assustar aos presentes. Partiu de Flaubert, pai dos princípios da narrativa contemporânea, atravessando Vladimir Nabokov (Lolita, 1955) e Michael Cunningham (Uma casa no fim do mundo, 1990), até chegar a Ian McEwan (Na praia, 2007). Trouxe, concomitante a tais leituras, as definições apontadas por E. M. Foster há bem quase um século sobre personagens "planos" e personagens "redondos" e nos sugeriu que, antes de pautarmos nossas composições sobre tais conceitos, pensássemos na apresentação de nossos personagens em termos que não sejam, digamos, análogos a conceitos geométricos, mas sim ópticos. Um colega de oficina, inclusive, mencionou as maneiras que as pessoas têm de se concentrar em determinados objetos, divididas em três categorias: visual, auditiva e sinestésica. Não vamos nos aprofundar no assunto (para isto existe a Wikipédia), mas lembremos que isso tem tudo a ver com analogias do universo da óptica. James Wood, teórico contemporaníssimo, por sua vez, apontou, nesse sentido, a divisão não entre personagens "planos" e "redondos", mas sim "transparentes" e "opacos". Os primeiros seriam aqueles personagens realmente simples, enquanto os últimos, os que demonstrariam relativos graus de mistério. De todos os assuntos debatidos na oficina, que à tarde teve seu segundo round, certamente foi este o mais importante e pontual. Mas é claro que tivemos atividades práticas também, ou a experiência não teria sido uma "oficina". De uma dessas atividades  cujas Premissas eram a) uma determinada fotografia; b) a expressão quando cruzei o pórtico do parque de diversões; somadas a c) uma emoção aleatoriamente sorteada entre os participantes  saí com o seguinte Quadro:

Desde quando cruzei o pórtico do parque de diversões, andando pra trás pra ver atrás quem vem. E a cada passo que dava pra trás, meu destino se afastava cada vez mais. Lembrando porquês desta busca, busco origens. Acho que deveria sair correndo; deveria correr de costas, rebobinar esta vida. Correr naquela montanha russa, só que de costas; pra ver se volto o tempo; e ver se essas diversões todas voltam a divertir. Porque é só isso o que quero. Só isso de que preciso. (...) Vou correr montanha russa acima, só que correndo pra trás, olhando pra frente, seguindo pra trás, pra ver se me encontro outra vez, lá no começo, antes de tudo (...), antes do parque de diversões. Alguma coisa de que nem me lembro. Só me lembro é dessa velocidade, é dessa necessidade, é dessa intensidade. É dessa vontade. (...) Preciso de mais, agora. Tem mais lá pra trás, onde não tinha nada? Quisera nunca ter cruzado o pórtico do parque de diversões. (...)

Agora, alguns dias depois, relendo o exercício, inevitavelmente acabam saindo alguns cortes. Algumas coisas que não fariam sentido fora do contexto. Enfim. Após a oficina, a autora acompanhou a gente até o estande da Livraria Paraler e autografou nossos exemplares de Sinuca embaixo d'água (Cia. das Letras, 2009), seu último romance. Partimos então, bastante satisfeitos com a experiência.

Conheça também as impressões de Victor Costa sobre o evento clicando aqui.
Visite o site da 13ª Feira do Livro de Ribeirão Preto clicando aqui.





10 de jun. de 2013

Um sábado em Ribeirão Preto

Seguem abaixo, in medias res, as impressões personalíssimas de Victor Costa, mordazes e honestas, sobre a nossa recente excursão em visita à 13ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto (SP), que ganhará uma cobertura ainda esta semana.



Um sábado na feira
Victor Costa
Fernando Bonassi e Victor Costa (arquivo)

Depois de rodarmos alguns quarteirões procurando estacionamento, conseguimos um a alguns metros da feira. Fomos  Pâmela, Assis, Yvone e eu  informados da existência de um e-mail fantasma, através do qual deveríamos ter feito as inscrições. De lá pra cá nós andamos, para enfim aguardarmos por alguns minutos o horário do início das oficinas.

Os três foram para a de Personagem e Espaço Ficção e me deixaram sozinho na de Roteiro para Cinema. "Sozinho" literalmente, porque quando o Bonassi (que também esteve no Sesc Araraquara com Marçal Aquino em 2012) entrou na sala só tinha eu. 15 minutos depois já tinha quase cinquenta pessoas. Bem no seu jeitão descontraído, ele passou três de seus curtas-metragens pra gente; falou da sua experiência na elaboração de roteiros de filmes como "Carandiru", "Cazuza", e "Lula: o filho do Brasil". Também falou do seu seriado "Força Tarefa", na Rede Globo de Televisão.

Ao meio dia saímos para almoçar e quando voltamos, na segunda parte da oficina, minha vontade era de sair da sala, deitar no corredor, dormir um pouquinho e voltar. Mas não vi nenhum colchão por perto, e além disso alguém poderia atrapalhar meu sono. O que me manteve acordado foi o bom-humor do Bonassi, que nos fazia cair na gargalhada de dois em dois minutos. Essa segunda parte foi mais um bate-papo: ele comentou vários filmes, novelas, nos adiantou um episódio da sua nova série para a Globo e ainda contou várias peripécias de sua longa carreira de roteirista  daí as gargalhadas.

Quando a oficina terminou, corri até prédio ao lado querendo encontrar o Augusto Cury (que para os desinformados não escreve "autoajuda", e sim "psicologia"), mas ele já havia terminado sua conferência e ido embora. Meu livro ficou sem autógrafo. Infelizmente.

Esperei durante meia hora a outra oficina terminar e enfim demos uma volta pela bizarra 13ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto. Coisas que eu nunca vi na Flip transitavam por ali: grupinhos de garotos usando aqueles óculos "varejeira", cada um de uma cor, bem fashion, bonés e caixinhas de som na mão  normais em bailes funk  assim como menininhas usando top e shortinho. Deduzi que estivessem procurando a editora "quadradinho de oito" ou algo do tipo. Devem ter encontrado.

Depois dessa bela apreciação da cultura brasileira algo de bom deveria acontecer (lembrem-se da alternância entre Valores negativos e positivos). Fomos pra casa da Dona Rose, mãe do Assis. Nos divertimos e babamos um pouco pela linda Clarisse, sua sobrinha de apenas quatro meses que inclusive tocou violão durante o café, completando nosso bate-papo sobre música.

Saímos de lá à noite e Não! Não fomos comer pizza Quebramos nossa apetitosa tradição! Mas Paraty que nos aguarde

Retornamos pra nossa iluminada cidade luz  que não é Paris, mas, se comparada a Ribeirão Preto, está quase lá.




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