3 de set. de 2013

Rubem Braga no Museu da Língua Portuguesa

Terminou ontem, 2 de setembro, a exposição Rubem Braga – O fazendeiro do ar, que esteve em cartaz no Museu da Língua Portuguesa desde junho e que a Produção Literária visitou no último sábado, 31 de agosto. Rubem Braga, renovador da crônica brasileira nascido em Cachoeiro de Itapemirim (ES) no dia 12 de janeiro de 1913, recebeu essa grande e justíssima homenagem em comemoração ao seu centenário e que segue agora para o Rio de Janeiro, para ser instalada no prédio da antiga Rede Manchete.


Disposta em cinco módulos, a exposição buscou abraçar as principais facetas desse homem. De início, um salão coberto do chão ao teto com reproduções de edições do Diário Carioca e do Correio da Manhã – jornais em que Rubem Braga atuou – trazia mesas com máquinas de escrever, imitando o ambiente de uma redação de jornal de meados do século passado. Cada uma das mesas mostrava uma daquelas facetas, entre elas: o Homem, apresentando um pouco de sua vida pessoal; o Andarilho, lembrando suas viagens tanto no Brasil quanto no exterior; o Editor, dispondo exemplares de obras publicadas pela Editora do Autor, que dirigiu em parceria com Fernando Sabino e Walter Acosta, e também alguma correspondência que manteve com os autores que publicou; o Escritor, trazendo suas próprias obras; e o Repórter, mostrando seus trabalhos tanto no jornalismo político quanto como crítico de Arte. Abrindo as gavetas, o visitante podia encontrar alguns “extras”: objetos pessoais, manuscritos e fotografias. Sobre algumas máquinas de escrever havia tablets que, acionados pelas teclas das mesmas máquinas, apresentavam trechos de crônicas, reportagens e depoimentos.


No módulo seguinte, dedicado à época em que Rubem Braga atuou como correspondente junto à Força Expedicionária Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial, ainda num ambiente coberto de jornais do teto ao chão, uma longa mesa com vários telefones antigos ocupava a sala. De um lado, a crônica Cristo morto – dolorida reflexão sobre o sentido da vida, manifesto pacifista, experiência íntima e crua, expressão dramática e tocante, para dizer o mínimo –; do outro, projeções de imagens do período. Cada um dos aparelhos telefônicos – que, diga-se de passagem, entusiasmaram a muitos dos jovens visitantes da exposição por serem-lhes um tanto “exóticos” – acionava uma gravação em áudio quando tirado do gancho, situando o ouvinte no tempo por meio de registros do noticiário e da música popular da época. Lembrando que Rubem Braga foi o único jornalista que testemunhou a “Rendição de Fornovo”, em que 14 mil soldados da 148ª Divisão de Infantaria alemã entregaram-se ao Exército Brasileiro. Uma instalação de aviões feitos de dobraduras de jornais – alusão evidente à Força Aérea Brasileira também atuante naquele conflito mundial – que lentamente transformavam-se em pássaros convidava o visitante a seguir para o próximo módulo: este reproduzindo a lendária cobertura em que Rubem Braga viveu, no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro.


Interiorano saudoso, o cronista plantou um pomar sobre o edifício, para que desfrutasse ao menos um pouquinho da vida agreste na cidade grande. Esse terceiro módulo da exposição imitava a sala de estar de Rubem Braga. Sobre a mesa de centro, duas telas mostravam em vídeo os testemunhos de amigos como Ana Maria Machado, DanuzaLeão, Fernanda MontenegroZiraldo e Zuenir Ventura, entre outros. Nessa mesma sala, retratos do autor – um deles traçado por Cândido Portinari, outro por Dorival Caymmi –, assim como algumas fotografias de encontros com amigos em sua cobertura lendária.


O penúltimo módulo da mostra fazia uma alusão ao livro de crônicas O conde e o passarinho (1936), obra de estreia do autor homenageado, trazendo uma projeção interativa em que passarinhos pousavam, por meio de um jogo de sombras, nos visitantes. Rubem Braga, de fato, foi um apaixonado por passarinhos (sou da turma dele). O último módulo trazia instalações com fotografias e trechos de crônicas relacionadas à cidade natal do autor, Cachoeiro de Itapemirim.


O rico acervo da exibição – composto por textos, documentos, correspondência, medalhas, cadernos de anotações, desenhos, pinturas, fotografias, rascunhos, objetos pessoais, depoimentos e vídeos –, além de tratar-se de um farto material cedido pela família Braga, também reunia documentos e fotografias que tinham sido doados anteriormente à Fundação Casa de Rui Barbosa. Ao término das exposições em São Paulo e no Rio de Janeiro, todo esse material segue para Cachoeiro de Itapemirim, onde ficará em exibição permanente na casa da família do autor. Rubem Braga faleceu em 19 de dezembro de 1990, acometido por um câncer na laringe.

À parte de o título da mostra ter sido evidentemente inspirado em Carlos Drummond deAndrade (O fazendeiro do ar, 1954), Marco Antônio de Carvalho, biógrafo de Rubem Braga, após mais de dez anos dedicados a pesquisas, lançou o livro Rubem Braga – Um cigano fazendeiro do ar (Ed. Globo, 2007), merecedor do Prêmio Jabuti de melhor biografia em 2008. Foi essa biografia, obra da vida de seu autor, que certamente inspirou a curadoria a adotar o subtítulo da mostra.

Depois da visita ao Museu da Língua Portuguesa, a Produção Literária ainda esticou as pernas na Pinacoteca do Estado e, como reza a tradição, concluiu o passeio com uma saborosa pizza.







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