12 de jun. de 2013

13ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto


A Produção Literária visitou no último sábado, 8 de junho, pela terceira vez, a feira nacional do livro de Ribeirão Preto, que neste ano conta sua 13ª edição. Entre espetáculos musicais, apresentações teatrais, oficinas de grafite e um "vale cultura" para os alunos da rede pública de ensino, o evento, em pleno andamento, ainda oferece debates, conferências e oficinas literárias, sendo estas justamente o que buscamos neste ano. Talvez não pela diversidade em seu cardápio, uma vez que a feira ribeirãopretana apresenta-se já na terceira página de sua programação oficial como um evento multicultural, não necessariamente voltado apenas para o universo do livro e da leitura, mas estranhamos o fato de nossos colegas não terem manifestado muito interesse em visitar uma feira tão próxima  material e, porque não?, culturalmente. Fomos apenas quatro, todos do Grupo da Rua Três, nenhum da turma de 2013, para trazermos impressões e experiências. Talvez o que seja realmente frustrante é ver a enorme quantidade de investidores de grosso calibre, elencados na contracapa da brochura supracitada, que estão por detrás do evento e então sair de lá com a sensação de que alguma coisa muito importante ficou faltando. Alguma coisa que justifique o mote "livros nos fazem livres", por sinal maravilhoso. Talvez porque a feira tenha contado este ano com uma praça a menos, o que significa dezenas de estandes a menos. O que significa feira a menos. Livros infantis e revistas demais. Melhor dizendo, livros "de colorir" e revistas "de receitas econômicas" demais. Talvez seja a falta que sentimos de uma Literatura realmente expressiva e não tanto didática (como aliás apregoa nosso caro Menalton Braff, cujo nome não constava desta vez entre os do pessoal da "Fundação Feira do Livro"). Talvez o contrastar daquela lista enorme de patrocinadores e apoiadores com os resultados observados seja justamente o que nos dá aquela sensação, quase sartreana, de escassez. Mas vamos logo ao que interessa, porque este texto já está cheio de talvezes.


Chegamos cedo para a inscrição nas oficinas Roteiro para Cinema, ministrada por Fernando Bonassi, e Personagem e Espaço Ficção, ministrada por Carol Bensimon. Não cabe aqui divagar sobre certas dificuldades em encontrar estacionamento para o carro ou mesmo de realizar as inscrições propriamente ditas, mas vale dizer que o Centro Cultural Palace é um belo de um espaço, por sinal muito bem aproveitado. Em meus dias de morador de Ribeirão Preto, lá ainda no nostálgico final do século XX, recordo-me dum prédio antigo, trancado e aparentemente arruinado. Vê-lo outra vez de portas abertas foi uma sensação bastante bacana. Aliás, ele já estava novamente em funcionamento há algum tempo e foi pura omissão de minha parte, desde as edições anteriores da feira, não tê-lo adentrado. Enquanto aguardávamos o início das atividades, visitamos a mostra, coordenada pela Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto, do fotógrafo Márcio Monteiro, que trouxe retratos de sua viagem à Alemanha, país homenageado pelo evento.

Como funciona a ficção,de James Wood
(Cosac Naify, 2011)
Nosso companheiro Victor Costa assistiu à oficina de Fernando Bonassi, tendo deixado suas impressões aqui no blog. Yvone Z. da Silva, Pâmela Lino e eu participamos da oficina de Carol Bensimon, sedentos por novas visões sobre construção, caracterização e composição de personagens. De tabela, ainda conseguimos uma noção, até mesmo prática, do que se pode extrair de um ambiente ficcional (fictício ou não) em prol de um personagem. Honesta como sua prosa, Carol logo de início admitiu que aquela manhã marcaria seu début como ministradora de oficinas, coisa que de modo algum pareceu assustar aos presentes. Partiu de Flaubert, pai dos princípios da narrativa contemporânea, atravessando Vladimir Nabokov (Lolita, 1955) e Michael Cunningham (Uma casa no fim do mundo, 1990), até chegar a Ian McEwan (Na praia, 2007). Trouxe, concomitante a tais leituras, as definições apontadas por E. M. Foster há bem quase um século sobre personagens "planos" e personagens "redondos" e nos sugeriu que, antes de pautarmos nossas composições sobre tais conceitos, pensássemos na apresentação de nossos personagens em termos que não sejam, digamos, análogos a conceitos geométricos, mas sim ópticos. Um colega de oficina, inclusive, mencionou as maneiras que as pessoas têm de se concentrar em determinados objetos, divididas em três categorias: visual, auditiva e sinestésica. Não vamos nos aprofundar no assunto (para isto existe a Wikipédia), mas lembremos que isso tem tudo a ver com analogias do universo da óptica. James Wood, teórico contemporaníssimo, por sua vez, apontou, nesse sentido, a divisão não entre personagens "planos" e "redondos", mas sim "transparentes" e "opacos". Os primeiros seriam aqueles personagens realmente simples, enquanto os últimos, os que demonstrariam relativos graus de mistério. De todos os assuntos debatidos na oficina, que à tarde teve seu segundo round, certamente foi este o mais importante e pontual. Mas é claro que tivemos atividades práticas também, ou a experiência não teria sido uma "oficina". De uma dessas atividades  cujas Premissas eram a) uma determinada fotografia; b) a expressão quando cruzei o pórtico do parque de diversões; somadas a c) uma emoção aleatoriamente sorteada entre os participantes  saí com o seguinte Quadro:

Desde quando cruzei o pórtico do parque de diversões, andando pra trás pra ver atrás quem vem. E a cada passo que dava pra trás, meu destino se afastava cada vez mais. Lembrando porquês desta busca, busco origens. Acho que deveria sair correndo; deveria correr de costas, rebobinar esta vida. Correr naquela montanha russa, só que de costas; pra ver se volto o tempo; e ver se essas diversões todas voltam a divertir. Porque é só isso o que quero. Só isso de que preciso. (...) Vou correr montanha russa acima, só que correndo pra trás, olhando pra frente, seguindo pra trás, pra ver se me encontro outra vez, lá no começo, antes de tudo (...), antes do parque de diversões. Alguma coisa de que nem me lembro. Só me lembro é dessa velocidade, é dessa necessidade, é dessa intensidade. É dessa vontade. (...) Preciso de mais, agora. Tem mais lá pra trás, onde não tinha nada? Quisera nunca ter cruzado o pórtico do parque de diversões. (...)

Agora, alguns dias depois, relendo o exercício, inevitavelmente acabam saindo alguns cortes. Algumas coisas que não fariam sentido fora do contexto. Enfim. Após a oficina, a autora acompanhou a gente até o estande da Livraria Paraler e autografou nossos exemplares de Sinuca embaixo d'água (Cia. das Letras, 2009), seu último romance. Partimos então, bastante satisfeitos com a experiência.

Conheça também as impressões de Victor Costa sobre o evento clicando aqui.
Visite o site da 13ª Feira do Livro de Ribeirão Preto clicando aqui.





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