19 de jul. de 2012

Um encontro


     Eu ansiava pela viagem há muitas semanas. Exatamente como no ano passado, a Flip foi mais que uma feira literária pra mim: ela serviu como uma terapia. Recomendo a todos.

     No sábado fomos pra cidade logo de manhã. Andamos pelo centro histórico, todos tirando muitas fotos e eu olhando constantemente para chão. Muito mais que o habitual, aliás: com tantas pedras no meio do caminho era preciso se precaver - sair de Araraquara, percorrer centenas de quilômetros, chegar a Paraty, caminhar um pouquinho e, por descuido escorregar ou tropeçar numa daquelas pedras enormes e se arrebentar todo, realmente, não me apetece.

     A cidade é muito agradável. É gostoso desbravar aquelas ruas, ver tantas casas antigas... mas foi preciso muito cuidado pra  não se perder, porque parece um labirinto pra quem não conhece e não está acostumado a andar por lá. Tudo é muito curioso, até as portas das casas chamam a atenção. É preciso parar pra tirar uma foto, pois, pra quem está habituado à cidade e a prédios enormes, tudo aquilo é novidade. E também não deixa de ser instigante imaginar quantas histórias aquelas terras abrigam.

     Durante todo o dia, as mesas e os escritores que eu vi e ouvi foram muito interessantes. A festa estava muito melhor que no ano anterior: gostei do contato maior entre escritores e leitores. Penso que isso é necessário e muito saudável para ambos: fiquei satisfeito ao ver que as editoras e a própria feira, estão atentas a isso. A livraria da Flip estava muito mais organizada, com um espaço maior e muito requisitada pelo público. Em certos momento era impossível transitar, ou até mesmo entrar nela.

     O Wellington estava muito atento. Viu o Hélio de La Peña e então nós dois tiramos uma foto com ele, que pessoalmente também é simpático e engraçado como habitualmente costumamos vê-lo.

     Durante o dia, todos nós andamos muito. Anoiteceu rapidamente e ficamos na Flip até altas horas. Tempo suficiente pra que eu não sentisse mais minhas pernas e as pálpebras dos meus olhos começassem a ganhar peso e movimentos involuntários. Senti uma vontade irrevogável de dormir e só acordar muitas horas depois, mas penso que aproveitei bem o dia e a noite, afinal não é sempre que se vai a Paraty.

     O domingo foi mais calmo. Pelo que eu percebi tinha bem menos pessoas na feira do que no sábado. Eu tinha ainda duas mesas pra ver, que, no geral, foram boas. Quem estava por lá era também o Fabrício Carpinejar, com aquelas roupas engraçadas. Foi muito atencioso quando pedi pra tirar uma foto com ele. À tarde, a Sônia e eu fomos pegar aquelas sacolas ecológicas que estavam distribuindo. Entramos várias vezes na fila e conseguimos alguns pares delas. Quando anoiteceu, voltamos pra pousada e todos nós saboreamos várias pizzas. Com paciência e inteligência a lareira foi acessa e aqueceu nossa noite. A lua estava solitária no céu, deslumbrante. O ar puro que eu respirava era encantador.

   Conversei bastante, dei risadas, aprendi algumas coisas, imaginei outras coisas, me inspirei, concentrei a atenção na inspiração - pensei a respeito de quê? eu nem me lembro! - observei a noite calma e única, tivemos muita música ao vivo, e a cores, e a gostos, e a todos, fiquei com sono, o tempo passou, me surpreendi, tirei conclusões, ouvi os sapos coaxarem, fiz suposições, senti frio, o frio desapareceu, a galera dormiu e eu dormi.

     No dia seguinte fomos ao Forte Defensor Perpétuo. O sol insistiu em não aparecer. Tiramos fotos do grupo todo reunido; fiquei alguns minutos observando o mar e as nuvens que se aproximavam da gente, anunciando que haveria chuva. Fomos almoçar num restaurante, depois caminhamos mais um pouco no centro histórico, pra nos despedirmos da cidade e tirar as últimas fotos.

     Fomos ao atelier do artista plástico araraquarense Lauro Monteiro, situado num lugar muito bonito. Assim como a pousada que a gente ficou, é no meio da natureza. Ali apreciamos seu belo trabalho, tiramos mais fotos do grupo e depois voltamos pra pousada; arrumamos as malas e voltamos pra Araraquara.

   A Flip foi muito proveitosa e só não foi melhor porque a Yvone, o Lucas, o Richard e o Carlos Alberto não estavam presentes, porque assim o “Grupo da Rua Três” ficaria completo. Mas não vão faltar oportunidades para que todos nós nos reunamos numa dessas belas viagens da Produção Literária.


Victor Costa

18 de jul. de 2012

Mergulho noturno




         Após algumas horas de viagem e alguns vultos de filmes, finalmente chegamos a Paraty. A viagem foi tranquila, eu acho; é difícil afirmar com certeza, com 50mg de Dramin no organismo. Afirmo apenas que o trajeto foi por via terrestre, pois me lembro de ter tomado um pingado em algum posto na beira da estrada. Eu acho.

            Chegando à pousada, bem cedo, tratamos de desfazer logo nossas malas e tomamos um rápido café matinal, pois teríamos que chegar às oito da manhã na Flip. Creio que algum de nossos colegas fazia parte da organização, ou algo do tipo. Ou era isso ou alguém tinha comprado ingressos para a primeira mesa. Não, não. Creio que havia organizadores na nossa trupe mesmo. Fiquei com medo de chegar tão cedo e dar de cara com o Zé Celso ainda vestido. Seria constrangedor. Mas o fato não ocorreu. Por que viemos tão cedo? 

 O ilustre Drummond era o homenageado da 10ª Flip. Com certeza ele tinha escrito havia uma pedra no meio do caminho em Paraty. Após 15 horas batendo perna em suas ruas históricas, todos ansiavam pelo asfalto nada histórico. Agora tudo fez sentido – este trecho evidencia: nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra. Uma não, várias, né Cacá? Meus pés ainda doem também. Estamos juntos, Drummond.

           Bem, já era tarde da noite quando algo me dizia que deveríamos ir embora. Juro que não relevei o fato de a maré ter subido e a água estar batendo em nossos joelhos. Não sei se era a fome ou a dor de cabeça, mas estava tão passado que sonhei que alguém dizia que estávamos esperando alguém fazer um desenho no livro de alguém. Que doideira. Que desenho? Que livro? Que Flip? Eu quero ir embora.




           Depois de uma eternidade e mais 15 minutinhos, enquanto boa parte do grupo repousava suas costas cansadas na van, nosso colega voltou com autógrafos de Angeli e Laerte. Àquela altura o único de Los três amigos que eu queria ver era o Glauco, nosso motorista. Confesso que minhas mãos coçaram ao ver meu colega caminhando distraidamente à beira do canal enquanto checava a dedicatória conferida a ele. Eu poderia dizer:

 – Ei, olhe lá, naquela gôndola! Com uma sombrinha escarlate e um vestido púrpura… não é o Laerte? – e de repente… tchibum! – Mas que horas você escolheu pra nadar, hein? Alguém te empurrou? Não, eu não vi ninguém. Como a cor dos seus lábios mudou de repente. Eu imagino que deva estar frio mesmo. Para. Não, não é de você; só estou rindo à toa…


Wellington Augusto Marcolino

16 de jul. de 2012

As pedras de Paraty

Foi-me solicitada uma crônica sobre a viagem que me impediu de postar, seguindo minha regularidade dominical, no último final de semana. O frio, o vento, os livros, as pedras, a poesia, a literatura, o Drummond. Tais elementos foram os temas propostos. Acho que não conseguiria escolher um em específico. Todos contribuíram para que fosse uma viagem interessante e agradavelmente literária. Explico: refiro-me à cidade de Paraty, que abrigou a décima edição da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty).

Como é peculiar a essa época do ano, o frio esteve presente em boa parte do tempo. Então, para aqueles que buscavam o desfrute de um mergulho no mar gelado e um tanto quanto revolto, ir para essa histórica cidade do estado do Rio de Janeiro não era um bom programa. O clima de inverno trazido pelo vento constante permitiu que um certo charme envolto em cachecol fosse dado ao ambiente literário ali instalado. A FLIP, sem frio, seria um erro.

Pendurados nas árvores, nas janelas das casas, nas prateleiras, nas mesas dos cafés e restaurantes, na mão dos mediadores e escritores. Os livros estavam em toda a parte. Alguns eram divulgados por seus próprios escritores, que faziam sua propaganda pessoalmente pelas ruas, já que não possuíam todo o glamour e apelo comercial dado pelas grandes editoras. Foram autografados, lidos, comentados. Os autores que tentaram se colocar à frente de sua obra de arte, não foram felizes em suas apresentações.

O contato dos leitores com seus referenciados escritores é, também, o tempero essencial do festival. Encontrar por acaso (ou mesmo nas mesas de autógrafos que se sucediam aos debates) aqueles que nos fazem sonhar e vibrar por meio de seus escritos é algo fascinante. Como blogueiro e cronista amador, ansiava pela palestra (com ares de stand up comedy) da jornalista velha de guerra, na Casa Folha, Barbara Garcia. E como leitor fanático de romances urbanos e sertanejos, muito esperava pelo encontro com Rubens Figueiredo e Francisco Dantas (esse último, conheci ali mesmo, por meio de um sensacional carisma sergipano, que me levou a adquirir Os Desvalidos, talvez o seu mais aclamado livro). Todas as expectativas foram positivamente correspondidas. Foi muito bom ouvir da própria boca (suja?) de Barbara os conflitos que enfrentou nos bastidores da imprensa, e saber que Rubens Figueiredo considera sua função de professor do ensino médio mais realizadora do que a de escritor.

O homenageado deste ano foi ninguém mais, ninguém menos, mas alguém que dispensa apresentações: o eterno e imortal poeta Carlos Drummond de Andrade. Assim como no poema No meio do caminho, havia não apenas uma, mas várias pedras no trajeto de quem vagava em busca das homenagens e exposições sobre o poeta pelas históricas e patrimoniais ruas de Paraty. Mas tal esforço era demasiadamente compensado. Cada intervenção sonora, visual ou escrita provava que não é necessário se utilizar de palavras rebuscadas e rimas complexas para se fazer poesia. A poesia de Drummond, aliás, está muito além do "gostar ou não de poesia". Ela é extremamente profunda em sua simplicidade. Resvala na prosa, na crônica, no conto. É universal. Ninguém passa imune por ela.

Assim como na agenda cultural nacional, a FLIP também já entrou para a de todos os amantes de literatura que vivem ou não no Brasil. Ano que vem, espero encarar, mais um vez, as pedras de Paraty.

Murilo Reis
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10 de jul. de 2012

10ª FLIP



Pelo segundo ano consecutivo a Produção Literária levou seus alunos à Festa Literária Internacional de Paraty, que homenageou o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. A FLIP está em sua décima edição e é considerada um dos mais importantes eventos literários do Brasil. Os membros da excursão partiram numa van na última sexta-feira, 06 de junho, alcançando a cidade histórica de Paraty na manhã seguinte e instalando-se na pousada Cachoeira Azul, na estrada do Corisco, aos pés da Serra da Bocaina.

O grupo assistiu a palestras de grandes autores contemporâneos, brasileiros e estrangeiros, como Ian McEwan, Jennifer Egan, Zuenir Ventura, Dulce Maria Cardoso, João Anzanello Carrascoza, Rubens Figueiredo, Francisco Dantas, Armando Freitas Filho, Eucanaã Ferraz, Carlito Azevedo, e dos cartunistas Laerte e Angeli, que estiveram recentemente em Araraquara. Foram discutidos diversos assuntos e ao final de cada mesa de debates os palestrantes realizaram concorridas sessões de autógrafos. Também houve apresentações musicais e exposições artísticas na Casa da Cultura de Paraty. Na segunda-feira, 09 de julho, antes de retornar, o grupo visitou o atelier de Lauro Monteiro e sua exposição ao ar livre sobre a Mata Atlântica.