7 de dez. de 2012

Mostra do Núcleo de Formação & Encerramento



Teve início ontem, dia 06 de dezembro, a exposição das principais composições dos alunos do curso de Produção Literária da turma 2012.

Os trabalhos - em prosa e poesia - foram ilustrados com fotografias de Pâmela Lino e estarão em exibição até o dia 20 de dezembro.

A exposição dos trabalhos faz parte da Mostra do Núcleo de Formação da Casa da Cultura "Luiz Antônio Martinez Corrêa", do qual o curso de Produção Literária faz parte.

Casa da Cultura "Luiz Antônio Martinez Corrêa"
Rua São Bento 909 - Centro
Período: de 03 a 20 de dezembro de 2012
Horário de visitação: diariamente das 09:00h às 21:00h; sábados das 9:00h às 12:30h


Os textos em exibição são os seguintes:

- Sonhos Possíveis, conto de Darci Barelli;
- Os olhos, conto de Elias Araújo;
- A carta, epístola de Jéssica Leite;
- Em noite de Santana culpe-o, conto de Lucas Alexandre de C. Dias;
- Por entre essas ruas, conto de Nicolas Silva;
- Voa nossa liberdade, poema de Orlando Aires da Nóbrega;
- Companheiros de colégio, conto de Sônia Cassoli;
- Tela, poema de Thiago Henrique Rossi;
- Reações, conto de Victor Costa;
- A viúva do casarão, conto de Wellington Augusto Marcolino; e
- No teatro, rapsódia de Yvone Salete Z. da Silva.


Confira a notícia e a programação cultural da mostra no site da Prefeitura Municipal de Araraquara.





Produção Literária encerra assim suas atividades neste ano em que foram completadas diversas realizações, além de alcançadas algumas conquistas importantes, como:

- participação constante e ativa no "Sarau na Praça" da Biblioteca Pública Municipal "Mário de Andrade";
- presença no lançamento do livro Tapete de Silêncio, de Menalton Braff
- encontro com o escritor Cristovão Tezza no SESC Araraquara; 
- exibição da mostra Poesia da aluna Maria Ignez de Freitas Camargo (turma de 2011);
- presença na 12ª Feira do Livro de Ribeirão Preto;
- presença no lançamento do livro Passagens de Tempo, de Mauro Maldonato;
- duas premiações do nosso colega Elias Araújo (clique para ver a primeira e depois a segunda); 
- presença na posse dos membros da Academia Araraquarense de Letras, da qual nossa colega Darci Barelli faz parte;
- encontro com o escritor João Gilberto Noll no SESC Araraquara;
- excursão à 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, com lançamento do livro Contos Reunidos, do Grupo da Rua Três, visita ao Museu da Língua Portuguesa e ao Mercado Municipal de São Paulo;
- encontro com os escritores Luiz Ruffato e Ana Mariano na Biblioteca Pública Municipal "Mário de Andrade";
- exposição Contos Reunidos, do Grupo da Rua Três, no Shopping Lupo; com lançamento da respectiva obra na Livraria Nobel Megastore Araraquara;
- bate-papo com o Grupo da Rua Três na Biblioteca Pública Municipal "Mário de Andrade";
- presença no lançamento coletivo de autores araraquarenses no SESC Araraquara; e
- publicações e leituras públicas de textos dos alunos em diversos meios e ocasiões!

Oferecemos a todos os alunos e amigos um grande abraço e os votos de BOAS FESTAS para todos!
Obrigado por tudo!

Assis Furtado


14 de nov. de 2012

A caixa azul

Segue abaixo um conto, no gênero "thriller psicológico", característico de Wellington Augusto Marcolino.


A caixa azul

24 de setembro de 2012, 01:45 p.m.

- O almoço estava ótimo, querida.

- Obrigada. Mas aonde você vai com tanta pressa?

- Recebi uma ligação do consultório. Parece que há um paciente à minha espera. A Mariana ainda não telefonou?

- Não. Hoje ainda não; ela deve ter ficado até mais tarde na faculdade.

- Tudo bem. Assim que eu estiver mais sossegado te ligo do trabalho. Beijo. E quando a Mariana ligar diga que mandei um beijo. Não se esqueça de perguntar se ela vem passar o fim de semana conosco.

- Claro que ela vem. É seu aniversário. Não seja bobo. Beijos. Te amo.

- Também te amo!

Mariana sempre passava as datas especiais em casa. Era dedicada à família e não herdara a arrogância do pai. Dr. Paulo nunca foi muito presente. Esquecera-se do último aniversário da filha e na tentativa de reconciliação mandara para a menina um par de brincos de pérola.

*                    *                    *

No caminho para o trabalho, dr. Paulo olhou para seu braço com uma marca de mordida e sentiu repulsa. Também ia olhando de relance os anúncios e outdoors que poluíam sua visão. Queria, na verdade, avistar o seu próprio: um bem grande que trazia uma foto sua vestido com seu terno italiano com a mão nas têmporas e os cotovelos apoiados em uma grande mesa de cerejeira tomada por livros. Havia livros por todas as partes. Na sua retaguarda e até uns ao seu pé, que ele quis que o editor de imagem cortasse mas este se recusara dizendo que a imagem perderia sua forma e naturalidade. Dr. Paulo não gostava dos artistas.

Assim que passou pelo outdoor que dizia “Dr. Paulo Gusmão, cinco vezes reconhecido pela Associação Brasileira de Psiquiatria. Clínica Gusmão: há mais de uma década zelando pela saúde mental. Mente sã, corpo são”, o doutor, com seu ego inebriado, estacionou o carro na sua costumeira vaga e dirigiu-se até o elevador. Apertou o 15º andar e cruzou as mãos na altura dos testículos. Adentrou o recinto avistando a secretária, que na ante-sala o esperava com uma ficha de controle nas mãos:

- Ele está lá dentro, doutor.

Passou pela moça, pegando automaticamente a ficha de suas mãos e ignorando o fato de haver outra pessoa respirando além dele no mesmo lugar.

Abriu a porta de seu consultório e avistou Jorge deitado no divã.

Jorge estava usando uma camisa xadrez, calça marrom e um sapato preto bem surrado. Tinha um anel, que o doutor julgava ser de camelô, no indicador da mão direita, e usava o cabelo sempre virado para o lado esquerdo. Era fã dos Beatles, por isso deixava um bigodinho à lá George Harrison e costeletas no estilo Ringo Starr. A camisa enfiada por dentro da calça realçava a barriga um pouco volumosa; as duas mãos cruzadas numa posição mortuária que só era amenizada pelo fato de ele fazer um pequeno chiado ao respirar. Talvez ele tivesse asma ou coisa que o valesse. O doutor não gostava daquele chiado.

- Pois bem, Jorge, o que faz aqui? Achei que nosso próximo encontro fosse na semana que vem.

Ao levantar-se do divã, Jorge desatinou num choro suplicante:

- Me perdoe, doutor. Por favor, me perdoe.

- Está tudo bem, Jorge. Ontem você infringiu as regras. Tivemos de sedá-lo.

- Me perdoe pela mordida, doutor. Juro que estou arrependido...

- Já está tudo bem.

O consultório do dr. Paulo era frio por causa do ar condicionado. Tinha um enorme tapete que pegava quase todo o centro da sala. E, ao fundo, uma grande mesa de mármore com alguns livros e uma cadeira giratória de tamanho absurdo. Logo atrás, um quadro da família.

Este quadro fez Jorge tomar uma decisão. Queria desculpar-se com o doutor pela última consulta. Queria dar a ele uma coisa de que gostasse muito.

- Eu trouxe um presente para o sr. doutor.

Estendendo as mãos que buscaram uma caixa atrás das sombras do divã, Jorge entregou- a ao doutor.

- Espero que o senhor goste! – era uma caixa azul.

- Certo. Agora você pode ir Jorge. Nos vemos na semana que vem.

- Doutor? O Sr. sabe que eu não gosto que gritem comigo, né doutor? O Sr. sabe.

Jorge não gostava que gritassem com ele.

- Sim, eu sei. Agora, por favor, Jorge. Não me faça chamar os seguranças.

- Tudo bem, doutor. Tchau. Até semana que vem.

- Até.

A porta se fechou e o doutor respirou fundo.


24 de setembro de 2012, 05:45 p.m.

- Consultório do dr. Paulo Gusmão, boa tarde!

- Oi, Vanessa. É a Linda. O Paulo ainda está por aí?

- Olá, senhora Gusmão. Está sim. Um minutinho só, que eu já transfiro a senhora.

- Obrigada!

- Oi, Linda; aconteceu alguma coisa?

- Estou preocupada, Paulo. O celular da Mariana só cai na caixa postal. Falei com as amigas dela da república e elas disseram que a Mariana não dormiu em casa essa noite. Ela nunca fez isso.

- Fique calma, Linda. Na certa ela está com algum namorado. Vou sair do consultório em cinco minutos. Vou até a cidade universitária procurar por ela.

- Obrigada, querido. Não sei o que seria de mim se não fosse sua calma e serenidade.

- Não se preocupe. Até mais tarde.

*                    *                    *

Saindo do consultório o doutor passou pela mesa da secretária:

- Tome, Vanessa, livre-se disso para mim por favor.

- O que é isso, doutor? Que caixa mais bonita! Eu adoro esse tom de azul...

- Não faço a mínima ideia. O maluco do Jorge quem me deu. Eu não quero nem saber o que é.

- Pode deixar que eu dou jeito, doutor.

- Obrigado. Até amanhã.

- Até amanhã, doutor.

Dr. Paulo caminhou até a porta e chamou o elevador. Enquanto isso, escutou seu celular vibrar dentro de sua valise. Ele abriu a pasta calmamente e pegou o telefone, ficando aliviado ao ver o nome no visor do aparelho: Mariana.

- Olá, querida. Que saudades! Por onde foi que você andou hein?

- O senhor sabe que eu não gosto que gritem...

Neste instante um grito apavorado veio do consultório. E mais outro. E outro grito.

Paulo saiu correndo e encontrou a secretária, trêmula, com as mãos no rosto. No chão, o doutor viu a caixa azul com um rastro de sangue que levava até uma cabeça decapitada. Paulo derrubou a pasta e o celular no chão. Arregalou os olhos e com as mãos na cabeça soltou um urro desesperado.

Entre fios de cabelo ensanguentados, grudado em um pedaço de cartilagem que um dia fôra uma orelha, notava-se um delicado brinco de pérola.

Do celular caído no chão podia-se ouvir entre os gritos de Paulo e Vanessa uma voz suplicante:

- Parem, por favor, parem de gritar!

Jorge não gostava de gritos.



Leia também Mergulho noturno - apreciação "semifictícia" de Wellington Augusto Marcolino sobre a excursão à 10ª FLIP.

8 de nov. de 2012

A longa espera

Segue abaixo um conto de nosso colega Elias Araújo, composto a partir do exercício sobre Decisão Crítica proposto em aula.


A longa espera
Elias Araújo

Ele toca a campainha. E espera. Sabe que os passos vêm em sua direção. E espera. A porta abre-se lentamente. Uma voz de criança escapa pelo vão e viaja no calor da noite...

O ritual dura mais de dez anos. E no tempo entre tocar a campainha e esperar a porta ser aberta, a dor de lembrar dobra a última esquina e o devolve à luz dos faróis que vieram em sua direção.

* * *

Não houve muito tempo para pensar, nem para coisa alguma que não fosse parar de cantar a música que a nora havia começado dentro do automóvel, todos felizes com a descoberta do sexo do bebê. A colisão não foi tão brutal, mas a velocidade dos automóveis que se chocaram fizeram seu carro capotar duas vezes e descansar no escuro do outro lado da pista. Em poucos segundos ele voltou a si do atordoamento e saiu do carro, cambaleando. Quando pensou que ficaria em pé, sentiu a perna dobrar-se numa crescente dor. Estava quebrada. Gemeu e caiu.

Começou a chamar pelo filho e pela nora, mas ninguém respondia: o rapaz debruçado sobre o painel do carro, a moça com a cabeça jogada de encontro ao vidro. Pareciam apenas desmaiados, mas algo estava errado. Ele percebeu. Além do acostamento havia um barranco que descia, íngreme e assassino, até o riacho.

Tentou pensar rápido, torturado pela dor da perna partida. Se salvasse a nora primeiro, com o neto que viria dali a dois meses, o carro despencaria com o filho ladeira abaixo. Se tirasse o moço, não tinha certeza de qual seria a reação do automóvel. Chorou ao se lembrar de como fora difícil resgatá-lo da adolescência desregrada, quando então o menino também se metera em buracos e barrancos, levado pela falsa impressão de felicidade que as drogas lhe davam.

Sem pensar em mais nada além de salvá-lo de mais um buraco, ele arrastou-se até o carro, entrou com dificuldade, soltou o cinto e puxou o filho para fora. Depois tentou rastejar novamente, com a perna tentando contê-lo a qualquer custo. No entanto, teve de recuar no momento mesmo em que pôs a mão na maçaneta da porta de trás: o carro moveu-se lentamente. E caiu.

Ele só gritou de desespero quando vislumbrou um clarão de fogo.

* * *

Os olhos do seu garoto brilham em direção aos seus:

— Feliz Natal, filho!

E ele espera enquanto estende os pacotes embrulhados para presente. O moço pega. E o homem sabe que em seguida a porta será fechada em seu rosto: um convite para que vá embora. Há mais de dez anos ele vem no Natal e volta para casa, cabisbaixo, mas nunca desistente. No começo havia sido apenas um presente, quando o filho saíra de casa, incapaz de suportar a dor de ter sido preferido na hora do acidente. Gritara ao pai que nunca o perdoaria.

Mas sua grande qualidade era a persistência, impulsionada pelo amor paternal. 

Com o passar do tempo, o moço refez a vida amorosa. Casou-se novamente. Teve um filho. Agora o avô traz presentes para os três.

Fica esperando-o fechar a porta sem dizer nada, como nos outros anos. Mas desta vez o brilho nos olhos é diferente. O moço não diz nada: vira-se e entra. Sem fechar a porta. Os lábios do pai sorriem levemente. Os velhos olhos cansados sentem gosto de lágrima.  A porta está aberta. Um convite para ele entrar. Uma voz de criança invade novamente o calor da noite:

— É o vovô?


Leia o poema premiado de Elias Araújo.
Leia o conto premiado de Elias Araújo.
Visite o blog de Elias Araújo.

5 de out. de 2012

Lançamentos de outubro no SESC



O SESC Araraquara promoveu nesta última quinta-feira, 4 de outubro de 2012, um lançamento coletivo de obras de autores araraquarenses e a Produção Literária esteve lá para conferir. O evento contou com um bate-papo descontraído, no qual os quatro autores falaram um pouco sobre suas obras. No final houve um coquetel com sessão de autógrafos em que o público teve a oportunidade de conhecer melhor cada um dos autores, dirigindo suas questões diretamente aos mesmos. A convite do SESC, este Assis Furtado que vos escreve foi o "intermediário". Eis uma breve apresentação dos autores e de suas obras:

Vivian Moraes - Sonetos sombrios reúne quarenta poemas densos, boa parte nascidos de pesadelos reais da autora, enquanto Poemas e canções contrabalanceia momentos alegres com outros lúgubres. Ambos os livros são edições da autora.

Dovílio Rodrigues - A vitória do colecionador de derrotas (Matão: Unigraf) é uma colcha de retalhos colorida, sob a ótica humorada, lúdica e com escorregadelas picantes. A obra convida o leitor a liberar o senso de humor inerente a todo ser humano.

Moacir Calarga - 100 crônicas de uma vida (São Paulo: Scortecci); Rick Carantelli é um famoso colunista de um jornal de média circulação e possui uma vida quase perfeita, até que um dia acorda jogado na calçada e sem memória.

Luciano Salles - Luzcia: a dona do boteco traz a história de uma mulher coxa, que sofre de artrite, administra o boteco do título - o mais afastado da cidade - e sobrevive da pensão insuficiente do governo: eis a definição da protagonista desta HQ independente.

Luciano, Vivian, Moacir e Dovílio.

Mais um evento enriquecedor da Cultura de nossa cidade promovido pelo SESC.

As informações sobre os autores foram adaptadas da programação oficial do SESC Araraquara.
Fotografias de Pâmela Lino.

Trecho da entrevista com Moacir Calarga

28 de set. de 2012

Um sonho triste

Segue abaixo mais um trabalho de nosso colega Orlando Aires da Nóbrega, poeta ameriliense:



Um sonho triste

Outro dia eu deitei para dormir
E sonhei com um mundo diferente
Onde um anjo parava em minha frente
E falava que eu tinha que lhe ouvir
Sem achar outro jeito pra sair
Eu tentei, porém ele insistia,
Em falar; no momento ele dizia
Que o desgosto existente era profundo
E as coisas erradas deste mundo
São assim por falta de poesia.

Esse povo aqui que agente vê
‘Tá pedindo socorro para alguém
Pede a Deus um poeta, que não vem;
Esse alguém que lhe possa socorrer
E, se demora, uma parte vai morrer,
Sem consolo, sem paz e sem guarida,
Esperança de outrora já perdida
Sem encanto, sem canto, sem magia,
Sem o aroma que exala a poesia
Nem que viva esse mundo, não tem vida. 

E ali eu fiquei observando
Já não via encanto nem beleza
Percebi que até a natureza,
De tristeza, também estava chorando,
Igual a uma criança lamentando
E pedindo ao mundo, por favor,
Que conserve a memória do autor
Que pra alma da gente faz tão bem
Se deixarmos morrer, morre também,
A feição das lembranças do amor.

Outra coisa me chamou a atenção
Quando se aproximava a noitinha
No meu íntimo que ia e depois vinha
Um desejo de ouvir uma canção
Dessas que nos alegra o coração
E deixa a alma tranquila, inquieta,
Porém algo me veio como u’a seta
Numa frase bastante inconfundível
Quando o anjo me disse: é impossível
Nesse mundo por falta de um poeta.

Eu não vi nem sequer um passarinho
Que pudesse cantar uma canção
A verdade é que o meu coração
Lamentava à beira de um caminho
Onde o seu dono trilhava sozinho
Por veredas sem saber aonde ia
Sem a bússola da vida não sabia
Se ficava parado ou ia em frente
O espírito poético está doente
Em um mundo que não tem poesia.

Quem irá recitar pros namorados
Numa noite de lua sem seresta?
E quem irá fazer parte de uma festa
Sem citar os casais apaixonados?
Sem lirismo estamos condenados!  
A sofrer nessa vida, e vou além,
Não se arrisque querendo viver sem
E por fim esse anjo me dizia
Se deixarmos morrer a poesia
Com certeza o amor, morre também.



Leia também "Os sentimentos humanos" de Orlando Aires da Nóbrega.


23 de set. de 2012

"Contos Reunidos" na 22ª Bienal de São Paulo




No domingo, 19 de agosto de 2012, foi realizado o lançamento do livro "Contos Reunidos", do Grupo da Rua Três, na 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, pela editora Scortecci.

O Grupo da Rua Três e seu editor, João Scortecci

O evento, além de parte integrante da excursão da Produção Literária à bienal, marcou o début de muitos dos alunos da turma de 2011 no mercado editorial; estes, que reuniram-se no grupo literário batizado de Grupo da Rua Três.

Na ocasião o Grupo conversou com o público, autografou exemplares do livro e teve também a oportunidade de entrar em contato com escritores de outras cidades, trocando ideias e experiências de grande valor.


15 de set. de 2012

"Contos Reunidos" na net

O lançamento dos "Contos Reunidos" foi noticiado nos portais de notícias Araraquara.com, SIM NewsK3 e Sua Cidade.
Confira as matérias!

NOTA: as viagens à 9ª e à 10ª FLIP e ao III Congresso Brasileiro de Escritores aconteceram, é claro, antes do lançamento na 22ª Bienal Internacional de São Paulo.

12 de set. de 2012

Grupo da Rua Três n'O Imparcial

Leiam na página 18 do jornal O Imparcial do dia 12 de setembro de 2012 a matéria sobre o lançamento dos "Contos Reunidos".
Só uma coisa: o evento vai começar às 10:30h, e não às 09:30h como consta.

10 de set. de 2012

Exposição "Contos Reunidos"

Começa hoje, dia 10 de setembro de 2012, a mostra "Contos Reunidos" no saguão inferior do Shopping Lupo em Araraquara.

A exposição apresenta as fotografias originais de autoria de Pâmela Lino que ilustram o livro "Contos Reunidos", do Grupo da Rua Três.Este grupo literário foi formado em abril deste ano a partir da reunião dos participantes da turma de 2011 da Produção Literária e o livro é sua primeira publicação.
O livro será lançado no próximo sábado, dia 15 de setembro, a partir das 10:30h na Livraria Nobel.

A exposição é composta por 16 painéis em que são apresentados o Livro, o Grupo, o Curso, os Autores, os Contos, diversos extras, "making of" da produção tanto das fotografias quanto dos contos propriamente ditos e imagens do lançamento na 22ª Bienal do Livro de São Paulo.

São membros do Grupo da Rua Três:

Carlos A. S. Roza
W. Augusto Marcolino
Yvone Salete Z. da Silva
Lucas Alexandre de Carvalho Dias
Richard Montezino
Victor Costa
Sônia Cassoli
Assis Furtado
Pâmela Lino



A mostra permanecerá exposta até o próximo domingo, 16 de setembro, e a entrada é gratuita.



Exposição "Contos Reunidos"
Saguão inferior do Shopping Lupo
Rua Gonçalves Dias 543
Horário: 2ª-Sáb 10-22h, Dom 11-22h
Entrada gratuita
www.shoppinglupo.com.br



Venha para o lançamento!


8 de set. de 2012

Encontro com Escritores: Luiz Ruffato e Ana Mariano



A Produção Literária esteve na última segunda-feira, 03 de setembro, no Encontro com Escritores promovido pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo na Biblioteca Pública Municipal "Mário de Andrade". Na ocasião, Luiz Ruffato e Ana Mariano, finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura 2012, falaram sobre suas obras e - o que mais ainda nos interessou - seus processos criativos.

Ruffato contou, numa inicialmente tímida terceira pessoa, sobre a importância de Araraquara em sua carreira literária. Foi cá que ele recebeu seu primeiro prêmio literário, entregue por Ignácio de Loyola Brandão em pessoa. O jovem autor teria partido de trem de Cataguases (MG), sua cidade natal, pensando que alcançaria tranquilamente o nosso burgo. Para seu infortúnio, a linha férrea terminava em Poços de Caldas (MG), a alguns quilômetros antes de cruzar a divisa SP/MG, e ele teve que vir de carona para receber seu prêmio. Não perguntamos se o Ignácio o levou na mercearia do Freitas em Bueno de Andrada, mas é muito provável que sim.

Ana Mariano, portalegrense da mais forte tradição literária gaúcha, contou-nos sobre seus cinco anos de trabalhos debruçados sobre o livro Atado de ervas: os mínimos detalhes pesquisados, como as condições climáticas em determinada data ou mesmo as doenças que afetavam o gado - tudo isso Ana usou para enriquecer sua obra. O que ela compartilhou na ocasião foi de grande importância, tão ou mais enriquecedora, para os presentes: ela repetiu o coro que sempre repetimos, que escrever é um ofício de dedicação que deve ser exercido dia após dia, com disciplina e assiduidade. Completamos, parafraseando Carlos Drummond de Andrade, que engana-se quem pensa que só porque teve um acesso de inspiração momentânea pode chamar-se de escritor. Transpirar é preciso!

Segue abaixo um poema de Ana Mariano, de seu livro Olhos de Cadela (L&PM Editores, 2006), que acreditamos bastante representativo de sua força poética:


Náufraga
Ana Mariano

Era estátua de sal a mulher na areia.
Abrigo vazio com braços de abraços,
o rosto enredado em vigília de espera.

Na garganta estendida, um nó apertado.
Dois olhos castanhos tateando a maré.
O que lhes faltava?
Faróis incompletos, brilhavam, apagavam,
à espreita do mar.

Partida de barco, silêncio de peixe,
angústia de prece vagueando no ar.

E a chama da garça dançando na névoa,
tecido de renda que o tempo do tempo,
ao jeito do vento,
tecia no mar.


O Prêmio São Paulo de Literatura agracia autores em duas categorias, "Melhor Livro do Ano" e "Melhor Livro - Autor Estreante do Ano", com R$ 200.00,00. É de longe o maior (e melhor) prêmio literário do Brasil. Domingos sem Deus, de Luiz Ruffato, concorre ao prêmio de melhor livro do ano, enquanto o supracitado Atado de Ervas, da poetisa Ana Mariano, concorre ao melhor livro de autor estreante, por ser este livro sua estreia como romancista.


A Produção Literária, alunos e professores, deseja boa sorte a ambos os autores e agradece a simpatia e a cordialidade com que foi recebida e atendida em suas questões várias.


Leia a matéria no site da Secretaria de Estado da Cultura, no site 
Araraquara.com, no SimNews, no portal K3, no portal G1 e no site da EPTV.

7 de set. de 2012

Dois momentos


Segue abaixo o conto de nosso colega Elias Araújo, premiado no XX Concurso de Poesia e Prosa da Academia de Letras de São João da Boa Vista. Nossos parabéns por mais essa conquista!

Dois momentos
Elias Araújo

Primeiro
A primeira vez que Virgínia Lênis viu seu noivo foi no dia do casamento. Ela tinha 13 anos e a alegria de uma borboleta recém-saída do casulo. Corria pelo sítio alimentando o vento da primavera com seu vestido de chita barata e com seus cabelos longos de menina livre. Brincava de pega-pega com os primos menores, sorridente como o sol da manhã, ao ouvir o tropel dos cavalos passando pela porteira. Os primos e primas saíram correndo para encontrar os pais gritando euforicamente.
Ela pensou em se esconder entre as plantas do sítio, mas a mãe pareceu adivinhar suas intenções que desonrariam o pai naquele fim de mundo.
— Virgínia. — gritou a mãe. — Vem cá, teu pai tá chegando com teu noivo.
— Mas eu não quero casar agora, mãe. — disse ela, agarrando-se à cintura da mulher. — Eu só quero brincar mais um pouco.
A mãe fez um muxoxo, o mesmo que o destino a obrigava a fazer de vez em quando ao vencer a batalha. E levou-a para dentro, enquanto suas irmãs, cunhadas e tias preparavam a casa e a festa para os homens.
Virgínia deixou-se ser lavada, vestida, penteada. E levada para a tarde florida e ensolarada do seu casamento. Quando olhou para os homens na sala, todos vestidos com roupas de missa, não viu a menor diferença de idade entre eles, a não ser o Zé Joaquim, um primo que mal chegava aos 17 anos e que a olhava como uma criança olha um doce na vitrine da confeitaria e não pode ter. Trocaram olhares de imploração e inércia de um e de outro. E de tristeza em comum.
No fundo da sala o padre a esperava atrás de um altar com tudo improvisado: uma toalha de renda, algumas flores, um livro e um noivo vestido de marrom e enfeitado com um bigode espesso. Ele não tinha boca, como ela percebeu, apenas o bigode. Então talvez nem precisasse beijá-lo.
Duas semanas antes de viajar, o pai dissera:
— Virgínia, venha cá, moleca do cão! Lembra do sinhô Pedroso, que nóis conheceu na quermesse ano passado? Então, fia, ele enviuvou mês passado e se alembrou d’ocê. Tá querendo ocê pra casar e como ocê tá mocinha já, e aqui no sítio tem seus primo que pode lhe fazer mar, dei permissão pra ele casar c’ocê quando nóis vortar de viagem.
Não, ela não tinha conhecido o homem, porque na quermesse ficara muito doente, ardendo em febre e só lembrava-se de ter ficado em uma casa de uma tal de sinhá Amália Pedroso, que cuidou dela muito bem. E mais nada.
Então aquele homem sem boca era o viúvo dela?
— Senhor Otávio Pedroso, aceita Virgínia Lênis como sua legítima esposa?
— Claro, foi pra isso que eu vim, uai!
— Virgínia Lênis, você aceita Otávio Pedroso como seu legítimo esposo?
Ela ficou muda. Olhou para a mãe e sentiu vontade de ser carregada no colo.
— Não... — sussurrou como passarinho com espinho na garganta.
— Deixa de ser besta, menina! — gritou o pai. — Claro que aceita, padre, aceita!
O padre insistiu na pergunta, esperou, esperou.
— Sim...

*                                              *                                             *

Segundo
A segunda vez que Virgínia Lênis viu seu noivo foi no dia do velório do marido. Sinhô Pedroso — como ela o chamara durante toda a vida conjugal — tinha morrido de madrugada. E ela dividira os ouvidos entre o vento desesperado por entrar na janela e os gemidos do velho.
Ela nunca soube como ele conseguia falar, gritar, comer ou gemer ou até mesmo resfolegar nas noites em que a cobria com sua manta de ossos. Porque nunca conseguira ver a boca dele atrás daquele imenso bigode, o que lhe dava uma aparência rude, talvez mesmo violenta. Entretanto, a violência nunca brotara daquele homem magro. Ao contrário, Virgínia nunca teve do que reclamar, era bem tratada, bem cuidada. Vigiada também, já que uma esposa menina bonita 40 anos mais jovem era motivo de preocupação para um pequeno fazendeiro que viajava muito a negócios.
Dos pequenos pecados que cometera até aquele momento, Virgínia só confessava ao padre a dor de nunca ter amado o marido. Talvez ele até merecesse, mas nunca conseguiu enxergá-lo de uma forma diversa daquele homem que fora buscá-la ainda descalça no sítio da família. Tudo o que fez foi lhe dar três filhos e esperar que morresse de velhice.
Infelizmente a velhice chegou, mas a morte não. Otávio Pedroso custou muito a morrer. Relutava. Insistia tanto que ela achou que a Morte tinha desistido de tentar levá-lo. Mas Ela não era entidade de desistir tão fácil dos seus pertences, Virgínia bem o sabia e resolveu ter mais paciência do que vinha tendo. Até que na última madrugada abriu o sorriso para a Morte entrar como velha amiga.
Sinhô Pedroso ainda lutou bravamente durante a madrugada. Agarrou a mão de Virgínia, gorgolejou, sacudiu-se inteiro na cama, tentou levantar. Agarrou o pescoço da mulher, como a querer levá-la junto. E realmente queria. O sussurro gutural transmitiu a Virgínia mais pavor do que nos longos anos de casamento.
— Virgíniaaa! Me ajuda, minha menina. Eu não querooooo... não quero... morrer.
— Já passou da hora, Sinhô Pedroso. — disse ela com tanta naturalidade que o marido sorriu, enquanto segurava fortemente sua mão. — Vá com Deus, Sinhô.
Ele teve um último espasmo, como alguém que morre afogado e tenta emergir antes do mergulho fatal. Depois se aquietou e morreu com olhos abertos em direção à chama da velha lamparina. Virgínia soltou sua mão delicadamente e juntou as deles sobre o peito magro. Depois calmamente fechou-lhe os olhos. Ficou um tempo assim, olhando para o rosto dele, até que a tomou uma curiosidade mórbida.
Cuidadosamente, para não machucá-lo, ela ergueu-lhe o farto bigode. E sorriu. Pela primeira vez depois de 40 anos Virgínia viu os lábios finos e inexpressivos do marido. Então, ela virou para o lado, cobriu-se e dormiu até o amanhecer.
— Que Deus me perdoe, mas tá muito cedo pra levantar.
Mais tarde, quando todos chegaram para o velório, ela já estava sentada ao lado do caixão posto no centro da grande sala de visitas da casa grande. As mulheres abraçaram-na e beijaram-na. Os homens apertaram-lhe a mão respeitosamente. Os irmãos ofereceram-lhe ajuda para cuidar da fazenda. Os filhos vieram da cidade, mas avisaram que não podiam ficar muito tempo e se a mãe quisesse vender tudo e ir morar com um deles...
— Não. Vou arrumar alguém pra cuidar da fazenda.
Disseram depois as más línguas que ele já vinha visitando a fazenda na ausência de Sinhô Pedroso, porque ela o reconheceu assim que entrou no velório. Zé Joaquim caminhou lentamente até ela, pegou-lhe a mão e ajudou-a a levantar. Abraçou-a respeitosamente sob o olhar espantado de todos os homens da sala, porque nenhum deles tinha ousado tanto.
Trocaram olhares de surpresa e alegria em comum. E tiveram pensamentos iguais, como se dissessem ao mesmo tempo como estavam ainda bonitos mesmo depois dos 50 anos.
Ela resolveu que alguns meses de luto eram suficientes para amenizar a dor de ter ficado viúva e sozinha. E como o primo Zé Joaquim também estava viúvo e sozinho, com todos os filhos casados, ambos se resolveram. Para deleite das más línguas.
A pequena igreja da cidade não comportou a família que havia crescido muito nos últimos anos em que ela ficara confinada ao casamento.
— José Joaquim de Lênis, você aceita Virgínia Lênis como sua legítima esposa?
— Sim, claro.
— Virgínia Lênis, você aceita José Joaquim de Lênis como seu legítimo esposo?
— Agora que eu não posso brincar mais um pouco, sim, aceito, sim. 

6 de set. de 2012

'O Escritor tem Poder'

Segue abaixo a transcrição da entrevista com Ignácio de Loyola Brandão, publicada na Tribuna Impressa do dia 25 de julho de 2012.

'O Escritor tem Poder'
Ignácio de Loyola Brandão aconselha novos escritores a pensarem apenas na qualidade de suas obras e não no dinheiro
por Matheus Vieira
ilustração de Lucas

Matheus Vieira - Qual o prazer que você sente, Ignácio, por trabalhar com as letras?
Ignácio de Loyola Brandão - Um prazer sensual. Além daquele prazer que todos conhecemos (coitados dos que não conhecem) existe o de soltar a fantasia, inventar mundos e pessoas, criar paixões, furacões, gente boa e ruim, megeras, santas, virgens ou não. O escritor tem poder. Poder de transitar por onde quer, dentro de sua imaginação.

Matheus Vieira - Qual é a realidade do mercado brasileiro para os escritores?
Loyola - Igual ao de 20, 30, ou mesmo 50 anos atrás. Apenas meia dúzia consegue sobreviver da venda de livros. Os outros têm um ofício paralelo que garante a "sobrevivência". Mas escrevemos pela paixão e pelo sonho, pela compulsão e necessidade. Tem quem queira escrever por delírio, mas este precisaria descobrir a fórmula do sucesso. E esta não existe. É aleatória, imponderável.

Matheus Vieira - E quais são as suas inspirações na hora de escrever, Ignácio?
Loyola - Inspirações? A realidade à minha volta. O mundo, as pessoas, a minha constante observação, o caderninho de anotações, as conversas, a intuição, o sexto sentido, o olhar agudo, penetrante, a busca incessante.

Matheus Vieira - Algum autor de Araraquara?
Loyola - Não, nenhum autor de Araraquara me inspirou.

Matheus Vieira - Que conselho você dá para aqueles aspirantes a escritores, que sonham em viver dessa arte?
Loyola - Escrever, escrever, escrever, ler, ler, ler. E em lugar de pensar em sucesso e dinheiro e fama, pensar em escrever boas histórias, bons romances. Colocar como meta ser o maior de todos e lutar para isso. Estou cansado desses jovens (e não jovens) que me procuram dizendo: quero ser escritor e ficar famoso. Digo: desista.
Outro veio e me perguntou: Como se faz uma tarde de autógrafos? Expliquei o mecanismo. Simples: livro, livraria, autor e convidados. E ele: Quantos livros preciso vender na tarde de autógrafos? Depende de quantas pessoas apareçam. Em seguida: E como faço para editar um livro? Expliquei e perguntei: Está pronto o livro? O que é? Romance, conto, crônica? E ele: Ainda não escrevi, estou me informando, por enquanto.

Matheus Vieira - Atualmente, o senhor está trabalhando em alguma obra?
Loyola - De uma conversa com Sandra Lapeiz, da Fundação Carlos Chagas, coordenadora do programa nacional Livros Para Todos, que vai este ano levar bibliotecas para mais de 50 cidades brasileiras, surgiu a ideia de fazer uma série de textos em cima das músicas que me seguiram ao longo da vida e me marcaram. O livro ficou pronto.
Imagens de Araraquara e de São Paulo, de Cuba, de Roma, contos, crônicas, memórias. Um livro indefinível. Gosto de gêneros sem definição. O livro terá imagens de Paulo Melo Jr. e um CD com todas as canções citadas, cantado por Rita Gullo. Título: "Solidão no Fundo da Agulha". O título é tirado de um poema de Viviane Mosé, poeta, educador e cronista.

20 de ago. de 2012

22ª Bienal do Livro de São Paulo

Visões da rua a partir do
Museu da Língua Portuguesa
(fotografias de Pâmela Lino)

A Produção Literária realizou mais uma de suas excursões (ou seriam incursões?): desta vez programamos um final de semana passeando na 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em que aproveitamos para também visitar alguns pontos de referência literários, gastronômicos e artísticos da cidade.

Saímos do Parque Infantil, em Araraquara, na manhã do sábado, 18 de agosto, e a van nos deixou na entrada da Estação da Luz, em São Paulo. Ali visitamos o Museu da Língua Portuguesa, cuja atração principal foi a antologia literária projetada na Praça da Língua, e depois a estação ferroviária propriamente dita. Na hora do almoço, caminhamos até o Mercado Municipal Paulistano, onde pudemos, após uma longa espera, experimentar seu lendário pão com mortadela. Para encerrar a programação de visitações, passamos o restante da tarde em visita à Pinacoteca do Estado.

Visões do Sítio do Sol
(fotografias de Pâmela Lino)

Complementando as referências literárias, gastronômicas e artísticas - e talvez reunindo-as todas num só evento especial -, tivemos também uma atração, digamos assim, ecológica: o pernoite de sábado para domingo aconteceu no Sítio do Sol, no município de Mairiporã, às margens do rio Juqueri, no meio da Serra da Cantareira. Atração "ecológica" porque "bucólica" não seria a palavra correta, uma vez que não haviam rebanhos a pastorear. No sítio pudemos conhecer a biblioteca do Sargento Adherval Costa, composta por uma coleção de obras raras de fins do séc. XIX até a primeira metade do séc. XX. Os livros, todos eles caprichosamente encadernados e classificados, versavam sobre as mais diversas frentes das ciências humanas: Literatura, Crítica Literária, História, Filosofia, Sociologia, Linguística, Antropologia, Etnografia, Folclore, Ciência Política, Artes Plásticas, Geografia, Psicologia e... Culinária, é claro. A biblioteca do Sargento Adherval Costa foi uma forte referência literária, que reuniu-se ao farto e delicioso churrasco oferecido pelos anfitriões, Senhor Osiris e Dona Rita (os pais de Pâmela Lino, diga-se de passagem; respectivamente sogro e sogra deste Assis que vos escreve), e então ao violão e às improvisações junto à fogueira, que completaram as referências gastronômicas e artísticas do encontro. Na manhã seguinte (19 de agosto), após um delicioso café da manhã, descemos pela mata ciliar até as margens do rio Juqueri, onde caminhamos e observamos a avifauna da mata nativa: aí a parte "ecológica" da viagem.


Depois de tudo isso, despedimo-nos de nossos anfitriões e partimos de volta para a cidade. Visitamos a 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo - talvez a maior feira de livros da América Latina. Vamos ver: ano que vem planejamos uma viagem à XVI Bienal do Livro do Rio [de Janeiro]...


Ofertas imperdíveis de última hora, encontros casuais com grandes figuras do meio literário brasileiro, filas intermináveis, empurra-empurra, impaciência, satisfação por encontrar aquele livro que se estava procurando, conversas imprevistas sobre assuntos dos mais diversos e o lançamento do livro "Contos Reunidos", do Grupo da Rua Três (que merece um post só pra ele): entre essas e outras, o pessoal da Produção Literária aproveitou bem o passeio.


Terminado o dia, como não podia faltar, ainda tivemos tempo para comer uma pizza antes de pegar a estrada de volta para Araraquara, cheios de planos para futuras incursões (não seriam excursões?).